A letalidade espiritual da irreverência
- Gile
- 28 de jan. de 2018
- 5 min de leitura

Em nossos dias, o entretenimento foi elevado à categoria de necessidade básica. Mas, nem sempre, foi assim. Em outros dias, a reverência e o devido respeito interior ocupavam o lugar, agora, destinado ao entretenimento.
É lastimável observar que tal cultura secular traspassou a divisa espiritual para enfraquecer e esfriar a fé dos cristãos. E isso claramente se vê nas reuniões e - tristemente - também na vida daqueles que se autoproclamam discípulos de Jesus.
Convido-o a viajar até as páginas sagradas e verificar como os verdadeiros discípulos de Jesus posicionavam-se ante as coisas sagradas.
Comecemos pelo antigo testamento, ali encontramos dois exemplos muito instrutivos a respeito da reverência: começando por Moisés, passaremos até o profeta messiânico - Isaías.
Certo dia, enquanto Moisés pastoreava algumas ovelhas, viu uma cena singular - uma sarça que ardia mas não se consumia. Intrigado, o pastor aproximou-se com cautela. Quando já próximo do fenômeno, ouviu a voz que dizia: “Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui! Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus” (Êxodo 3.4-6).
O que Deus estava ensinando a Moisés? Para respondermos esta pergunta precisamos entender o que tirar as sandálias dos pés significa. Naqueles dias, e ainda em alguns lugares nos nossos dias, tirar as sandálias dos pés indica reverência e humilhação. Quando alguém tirava as sandálias dos pés, estava dizendo: este é um lugar sagrado, aqui, eu me humilho e reconheço minha indignidade retirando minhas sandálias, entro de pés descalços. REVERÊNCIA.
Se Moisés vivesse nos nossos dias e fosse membro de uma denominação cristã, e fosse até o púlpito dar o testemunho de sua experiência extraordinária com Deus, e contasse tudo o que ocorreu e como tirou as sandálias dos pés - logo alguém iria rir dele, o dirigente da reunião tomaria o microfone de suas mãos e diria para todos dançarem na presença de Deus, porque ali “é lugar de alegria”!
Claramente vemos o contraste entre a atitude de Moisés e a que existe no coração dos cristãos dos nossos dias. Reverência? (alguns questionariam), o que isso tem a ver com meu relacionamento com Deus?
A reposta de Deus, desde a sarça ardente, é: você NÃO PODE vir a mim sem ela em seu coração! (“Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa”).
Parafrasearia o versículo 5 da seguinte forma: Não venha até aqui, Moisés; não do jeito que você está. Se quiser vir, deve tirar a sandália da irreverência e vir com os pés descalços - reverente!
Moisés aprendeu, desde muito cedo - na verdade, foi sua primeira lição com Deus, que a reverência é extremamente importante e poderosa no relacionamento com Ele. Reverência - Moisés nos explicaria - é a chave para a intimidade com um Deus que é Santo, Santo, Santo.
Isaías recebeu a mesma lição na escola de discípulos de Deus. Ao ter uma breve ilustração da santidade de Deus, Isaías entendeu que estava faltoso diante de um Deus que é 3 vezes Santo! (na verdade, elevar a santidade de Deus ao terceiro grau de repetição é apenas uma figura de linguagem que a Escritura emprega para demonstrar que a santidade é a mais importante característica de Deus, uma vez que nenhuma outra característica Dele é repetida, indicando intensidade e importância, na Bíblia): “No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Isaías 6.1-5).
Isaías diz: "eu vi o Senhor".
- E como ele era?, perguntamos ao profeta.
Ele, então, responde como Ele viu a Deus (o que não, necessariamente, reflete toda a majestade e santidade de Deus - trata-se apenas de uma visão simbólica que Deus deu ao profeta): sentado em um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Havia anjos ao Seu redor, e eles repetiam insistentemente Santo, Santo, Santo.
- Por que Santo, Isaías? Por que não Amor, Amor, Amor ou Misericórdia, Misericórdia, Misericórdia? - questionamos o profeta.
- Porque, apesar de todas essas coisas serem parte do caráter de Deus, o que predomina e o define é a Santidade. Em palavras simples, Ele é intensamente Santo; quando olhar para Ele, a primeira coisa que você verá será Sua santidade!
A visão que Deus concedeu a Isaías é um lembrete para que ele não se esquecesse em nome de quem profetizava. Não se esqueça, Isaías, você profetiza em nome de um Deus que é, intensamente, Santo! - Deus lhe lembrou através da visão.
Como Isaías respondeu à visão? Ele reconheceu sua miséria, e Deus o aperfeiçoou. Tocou-lhe nos lábios, “com a brasa tocou a minha boca” (v.7). A visão de Deus, deu a Isaías uma nova postura diante de um Deus que é - não apenas santo, mas - Santo, Santo, Santo! Deus o ensinou a ser reverente, aprendeu que deve cuidar com o que fala, pois está continuamente diante de um Deus que é Santo.
O que Isaías aprendeu? O mesmo que Moisés, a ter reverência! Ambos presenciaram visões assombrosas de um Deus que se revelou apenas parcialmente, pois nenhum ser humano - neste corpo terreno - suportaria a plenitude da manifestação de Deus.
Avancemos no tempo, até o século I depois de Cristo. Como estava a Igreja de Cristo?
Apocalipse nos responde: os efésios deixaram o primeiro amor; os de pérgamo, acolheram os hereges que sustentavam as doutrinas de Balaão e dos nicolaítas; os de Tiatira, toleraram Jezabel, uma falsa profeta que causou graves danos espirituais; em Sardes, os cristãos nominais estavam espiritualmente mortos; em Laodicéia, havia mornidão espiritual, não havia frieza, mas algo ainda pior - mornidão (uma detestável mistura entre o santo e o profano - algo que ofende gravemente um Deus que é Santo, Santo, Santo).
Este, meus caros, é o retrato da Igreja algumas poucas décadas depois de Cristo ascender ao céu. Assim vivam alguns cristãos - apenas nominalmente. Alguns eram bem intencionados - como os efésios e os de pérgamo - mas acolheram pessoas cuja doutrina e vida Deus detestava! (Apocalipse 2.6). Se verificarmos o texto com atenção, veremos que alguns daqueles crentes eram sinceros, mas erravam em sua excessiva tolerância e transigência. O que lhes faltava então? Reverência! Lembrar-se de que Deus é Santo! E que, portanto, JAMAIS se associará ao pecado. Assim, se alguém quer vir a Ele, deve deixar o pecado, ou então não poderá andar com Deus.
Minha suspeita é que eles, assim como nós, precisam recordar a quem servem, necessitamos de uma visão assombrosa do Deus que é infinitamente Santo, para - então - assumirmos a postura que o caráter santo de Deus exige: reverência!
Revisemos nossas vidas e atitude minuciosamente e busquemos ardentemente o primeiro e reverente amor que Deus deseja de nós.
Se Ele pudesse nos escrever uma carta, como fez às sete igrejas da Ásia, talvez ela nos exortasse a voltarmos a ser reverentes!
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