Uma visão ampla
- Gile
- 13 de jul. de 2018
- 6 min de leitura

Temos muitas “necessidades” nos dias de hoje. Isso é fruto do sistema em que vivemos. O consumismo é uníssono ao eu em nosso interior e nos empurra na direção da satisfação exterior – o que resulta em mais carros, mais casas, mais joias, mais cirurgias estéticas, mais rodas sociais, mais novos prestigiosos títulos…
Ao refletir sobre essa situação, faço minhas as palavras de Hank Hanegraaff:
"A escolha é sua. Você pode engolir a insensatez dos pregadores da Fé sobre o seu direito de derramar-se na auto-indulgência ou firmar seu coração sobre a satisfação mais profunda que vem do uso generoso de seus recursos para fomentar o Evangelho e melhorar a sorte daqueles que vivem ao seu redor. Você pode viver responsavelmente como mordomo de Deus (…). É a sua declaração bancária no céu que conta. Se sua esperança estiver no depósito bancário que possui aqui, você está perdido e falido, não importa quantos dígitos haja na sua conta, ladeando seu pomposo nome."[1]
Este, contudo, não é o pensamento da maioria das pessoas declaradas cristãs. Além de não observarem o que a Escritura ensina sobre esse tema, baseiam suas concepções em nada mais que seu desejo interior, seu próprio coração é o arbítrio da verdade – o que a Palavra chama de enganoso mais do que todas as coisas e desesperadamente corrupto (Jeremias 17.9).
Guiar-se pela “intuição cordial” é realmente algo perigoso!
A falta de juízo crítico bíblico tem tornado muitas pessoas presas fácies de líderes pouco sérios. A ingênua ideia de que, “se ele é um líder religioso, então ele é uma pessoa sincera”; tem lançado milhões de pessoas na escuridão da venda religiosa.
Como ocorreu no passado, a instituição tem criado suas próprias verdades, aquém do que a Palavra ensina – já vimos isso acontecer antes, houve até um certo monge alemão que se levantou contra tais práticas, e os que se dizem hoje seguidores das posições dele, agora, repetem o mesmo erro que o tal monge combateu! (Que ironia, não é mesmo?).
Doutro modo, a Bíblia nos dá as coordenadas para sairmos deste vale de treva espiritual:
"Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1 João 4.1; grifo acrescido)
E:
"E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens." (Atos 17.10-12; grifo acrescido)
Provar os espíritos – isto é, verificar qual espírito está guiando o ensinador – antes de dar crédito a quem quer que seja e examinar se aquele ensino está de acordo com o da Escritura são algumas das recomendações da Bíblia para não sermos enganados. Será que temos ouvido os conselhos de Deus? Temos feito esse exercício espiritual em busca da verdade?
Veja que, de forma alguma, a Palavra de Deus nos orienta a sairmos dando crédito a qualquer pessoa baseados apenas nas credenciais daquele que ensina. Títulos pastorais, história de vida, benfeitorias sociais ou religiosas, não são – de forma alguma – suficientes para validar o ensino de quem quer que seja. APENAS a Bíblia é suficiente para concluir se aquela pregação é verdadeira ou não.
Esse ensino está inserido em outro grande tema – o tema do compromisso, com quem nos comprometemos. Muitos são os que confundem isso. Se estivéssemos comprometidos com o Reino de Deus e não com instituições religiosas, não precisaríamos ensinar que toda pregação deve ser biblicamente validade antes de darmos crédito a ela. Mas, porque muitos de nós confundiram a quem devem ser fiéis, temos esse ensino a ser asseverado.
Em momento algum a Bíblia nos ensina a darmos nossa total fidelidade a instituições religiosas. Denominações não devem ser consideradas infalíveis nem dignas de total e cega confiança, sempre as devemos provar pelo crivo bíblico. Nosso compromisso ao nos convertermos a Cristo é com Aquele que nos salvou. Afinal, foi Ele quem nos salvou, a Ele – pois – devemos nossa fidelidade, pois instituição humana alguma pode salvar.
Nossa fidelidade e trabalho devem ser tributados a Deus e ao Seu Reino. Se assim o fizéssemos teríamos a maioria dos problemas religiosos da atualidade – dentro da cristandade – resolvidos instantaneamente.
Vemos discussões religiosas sobre qual o melhor líder, sobre a banda que toca melhor, sobre qual é o melhor cantor (artista) gospel. Shows e palestras (palestras, não pregações!) para entreter. Institucionalismo religioso, pura perda de tempo, amigo!
Não há denominação melhor ou pior, há apenas as pessoas que estão e as que não estão no Reino de Deus – muitas vezes dividindo o mesmo teto dentro da mesma construção de alvenaria, sede de uma instituição religiosa. A isto devemos nos atentar, pessoas!
Ser membro de uma instituição religiosa não o torna, instantaneamente, cristão. Ser discípulo de Cristo não é uma questão institucional, é uma questão espiritual, uma decisão pessoal e perseverante de seguir a Jesus em uma vida completamente nova e de conformidade com o Evangelho.
A biblicidade da forma como o doutor Josué Yrion aborda esse tema é admirável:
"Quando você está envolvido dentro de seu próprio concílio, denominação – o que você crê, sua doutrina – Deus não está limitado ao que você crê! Deus não vive pelos regulamentos de seu concílio, de sua igreja. A Deus não interessa os regulamentos de seu concílio, de sua denominação. Deus não está sob a sua autoridade. Você tem que entender que Deus é muito maior do que qualquer concílio ou denominação. Nós é que temos colocado nossas regras, nós é que temos imposto nossos estatutos. E a Deus não interessa seus estatutos. (…) Estatutos e o que o homem prega, tudo bem – para a administração e a ordem. Contudo, para Deus, isso não tem nenhum valor, porque isso não é bíblico. Isso são regras de homens para estabelecer a organização e a ordem. Você pode ter toda uma ordem em sua organização, porém – se você não tem um departamento missionário em sua igreja, não treina missionários e não envia missionários – você não tem razão de existir, dentro do contexto bíblico da Igreja do Novo Testamento. (…) Se seus estatutos e suas regras vão de encontro à Palavra de Deus – e não me interessa a tradição que você tenha, você pode ter 100 ou 200 anos de concílio – se está fora da vontade de Deus, você tem que mudar! Você tem que por a Deus… Mateus 15 diz claramente, que aos escribas e fariseus Jesus disse: ‘anulais a Palavra de Deus por vossas tradições’. Você não pode limitar a Deus e colocar Deus dentro de uma caixa de sapato. Deus não é, não pertence, não é membro de sua denominação! Deus não tem a carteirinha de membro de sua igreja, de seu concílio! Deus é ilimitado. A Igreja é mundial, está em todos os continentes! (…) Eu sou ministro e membro das Assembleias de Deus dos Estados Unidos; Deus não é membro do Conselho Geral das Assembleias de Deus dos Estados Unidos. Ele não tem sua carteirinha de ministro como eu tenho, ministro ordenado das Assembleias de Deus. Deus não é batista, não é nazareno [i.e., membro da Igreja do Nazareno], não é de nenhuma denominação. Ele é Deus! Ele é senhor, é senhor sobre você, sobre sua doutrina, é senhor sobre seu concílio, é senhor sobre o que você crê!"[2] Muitas pessoas estão dispostas a defender suas denominações e concílios, mas não se movem um centímetro sequer em prol do Reino de Deus. É possível defender uma denominação religiosa sem estar – concomitantemente – defendendo o Reino de Deus? (muitos questionam). Indubitavelmente, sim! E é exatamente o que está ocorrendo atualmente.
Precisamos alargar nossa visão. Necessitamos de uma visão de Reino em contrapartida à nossa atual visão de denominação (ou instituição religiosa ou igreja – com “i” minúsculo!).
Somente uma visão de Reino nos salvará da tempestade institucional (do “salve-se quem puder” de novas igrejas e divisões institucionais) que bate com violência no convés de nossas embarcações.
Se temos a pretensão de não naufragar na fé, devemos mudar – radical e rapidamente – nossa visão: de denominacional em espiritual, nos esforçando exclusivamente pelo Reino de Deus. Algo pelo que vale a pena trabalhar!
O conselho de Deus é que:
"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão." (1 Coríntios 15.58; grifo acrescido)
Trabalhar para instituições e interesses humanos é um trabalho em vão; somente em Deus nosso trabalho não é vão!
[1] HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em crise. 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. p. 250-251.
[2] YRION, Josué. Seminario de Evangelismo con Josue Yrion. Santiago: Catedral Evangélica de Chile, 2012
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