Superabundante graça!
- Gile
- 20 de ago. de 2019
- 7 min de leitura

O amor constrange. Esse princípio provou-se verdadeiro mesmo quando testado pela adversidade e o orgulho. Ele também é o “vínculo da perfeição” (Colossenses 3.14). I.e., aquilo que nos une à perfeição, nos aproxima dela. Vínculo é um ponto de contato, e o amor é nosso ponto de contato com a absoluta perfeição – Deus. E não é a membresia a uma instituição religiosa ou a credencial religiosa o que caracteriza um discípulo de Jesus, mas é justamente o amor (João 13.35).
E assim o é por uma simples razão – ele estava em Cristo e, portanto, identificará seu seguidor, pois este “deve também andar assim como ele andou” (1 João 2.6 – ARA).
Vejamos como Cristo, aquele que é amor (1 João 4.8), exercia-o.
Jesus e a mulher adúltera (cf. 7-11):
“Jesus foi para o monte das Oliveiras. E, pela manhã cedo, ele voltou novamente ao templo, e todo o povo vinha até ele; e, assentando-se, os ensinava. E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher pega em adultério, e, colocando-a no meio de todos, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério, no próprio ato. Ora, Moisés nos ordena na lei que tais sejam apedrejadas; mas tu, o que dizes? Isso eles diziam, tentando-o, para poderem ter do que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, escrevia com seu dedo no chão, como se não os ouvisse. Então, quando eles continuaram a perguntar-lhe, ele levantando-se, disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia no chão. E eles ouvindo isto, sendo condenados por sua própria consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; e Jesus foi deixado sozinho, e a mulher em pé no meio deles. Tendo Jesus se levantado, e não vendo ninguém senão a mulher, ele disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Nenhum homem te condenou? E ela disse: Nenhum homem, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais. Então, Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro. Jesus respondeu, e disse-lhes: Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro; porque eu sei de onde vim, e para onde eu vou; mas vós não podeis dizer de onde vim, nem para onde eu vou. Vós julgais segundo a carne, eu a nenhum homem julgo. E, mesmo que eu julgue, o meu juízo é verdadeiro; porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. Isto também está escrito na vossa lei, que o testemunho de dois homens é verdadeiro.”
(João 8.1-17; KJF; grifo acrescido)
O que mais chama-me a atenção nesse texto é a forma como Jesus trata a mulher adúltera, e a resposta dela a esse tratamento. Apenas no fim de sua fala é necessário que Jesus diga a ela que está em erro e que se arrependa (“vai-te, e não peques mais”). E essa advertência vem apenas após o perdão - “Tendo Jesus se levantado, e não vendo ninguém senão a mulher, ele disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Nenhum homem te condenou? E ela disse: Nenhum homem, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais” (grifo acrescido).
E porque Ele fez isso. Porque não a condenou?
Simples, porque não era necessário dizer a ela o que a própria já sabia. Gostaria que você imaginasse a cena. Ele está assentado, escrevendo na areia. A mulher é trazida por uma multidão raivosa. Certamente, a trouxeram à força, pois o fizeram a fim de apredejá-la, conforme a lei de Moisés determinava. Será que ela estava constrangida e humilhada, dadas as condições em que se achava – pega em pleno ato de adultério diante de todos? Sem dúvida, sim!
Agora, porém, estava diante daquele que exala pureza, Jesus expira santidade. Isso flui dele como o vapor de água em nossas expirações. Não há necessidade de apresentações quanto a Ele. Sua presença fala por Si. Aquela mulher percebeu o que Isaías pode compreender quando viu a Deus:
“No ano em que o rei Uzias morreu, eu vi também o Senhor assentado sobre um trono, alto e exaltado; e o seu séquito enchia o Templo. Acima estavam os serafins. Cada um tinha seis asas; com duas cobriam sua face e com duas cobriam seus pés e com duas voavam. E um clamava aos outros, dizendo: Santo, santo, santo, é o SENHOR dos exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais da porta moveram-se à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Porque eu estou arruinado. Porque sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros. Porque meus olhos têm visto o Rei, o SENHOR dos Exércitos“ [e percebo, agora, que não sou digno!] (Isaías 6.1-5; KJF; grifo acrescido).
A mulher foi colocada diante do mesmo Deus que Isaías viu, e a resposta de ambos foi idêntica, humilhação – sentiram-se como eram: pequenos e imperfeitos.
Não havia a necessidade de dizer a ela o que seus próprios olhos poderiam testemunhar – um tecido levemente amarelado mostra-se profundamente sujo quando é comparado ao branco perfeito! E o Deus encarnado – que vê o coração (2 Samuel 16.7; João 8.13-18) – sabia disso.
Por isso, Jesus não a trata como aos fariseus. Estes julgavam-se justos e santos, criam que eram perfeitos e capazes de cumprir a plenitude da lei de Deus. Jesus também conhecia o coração deles e dava testumunho disso publicamente (Mateus 23.1-11; Lucas 18.9-17).
Jesus veio para perdoar arrependidos – aqueles que reconhecem os seus pecados logo ao vê-lo – e para chamar ao arrependimento aqueles que ainda não perceberam sua próprias condições, a fim de que sejam perdoados. Mas, sem arrependimento, não há perdão (Mateus 3.1-2; 4.17).
A oferta de graça de Deus não há somente no Novo Testamento, Sua graça preenche cada página da Bíblia desde o Gênesis.
Davi prefere o castigo de Deus e evita o julgamento dos homens (cf. 11-13):
“E Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a enumerar Israel. E Davi disse a Joabe e aos governantes do povo: Ide, enumerai Israel desde Berseba até Dã; e trazei o número deles para mim, para que eu possa sabê-lo. E Joabe respondeu: O SENHOR faça o seu povo uma centena de vezes maior do que ele é; mas, meu senhor e rei, não são todos servos do meu senhor? Por que então o meu senhor requer esta coisa? Por que será ele causa de transgressão para Israel? Todavia, a palavra do rei prevaleceu contra Joabe. Pelo que Joabe partiu, e foi por todo o Israel, e voltou para Jerusalém. E Joabe deu a soma do número do povo a Davi. E todos os de Israel eram um milhão e cem mil homens que empunhavam a espada; e Judá era quatrocentos e setenta mil homens que empunhavam espada. Porém, Levi e Benjamim ele não contou entre eles; porque a palavra do rei foi abominável para Joabe. Isso desagradou a Deus, portanto ele feriu Israel. E Davi disse a Deus: Pequei grandemente em fazer isso; mas, agora, imploro-te, remove a iniquidade do teu servo; por eu ter feito mui tolamente. E o SENHOR falou a Gade, o vidente de Davi, dizendo: Vai e conta a Davi, dizendo: Assim diz o SENHOR: Ofereço-te três coisas, escolhe para ti uma delas, para que eu possa fazê-la a ti. Assim, Gade veio até Davi, e disse a ele: Assim diz o SENHOR: Escolhe para ti: ou três anos de fome; ou três meses para seres destruído diante dos teus inimigos, enquanto a espada dos teus inimigos te supere; ou, ainda, três dias da espada do SENHOR; a saber, a peste na terra, e o anjo do SENHOR destruindo ao longo de toda costa de Israel. Agora, portanto, aconselha-te de qual palavra trarei de volta àquele que me enviou. E Davi disse a Gade: Estou em um grande aperto; que caiamos, agora, na mão do SENHOR; porque mui grandes são as suas misericórdias; mas que eu não caia na mão de homem. Assim, o SENHOR enviou peste sobre Israel; e ali caíram de Israel setenta mil homens. E Deus enviou um anjo a Jerusalém para destruí-la; e enquanto ele a estava destruindo, o SENHOR olhou, e se arrependeu do mal, e disse ao anjo que destruía: Basta, detém agora a tua mão. E o anjo do SENHOR se pôs de pé junto à eira de Ornã, o jebuseu.” (1 Crônicas 21.1-15; KJF; grifo acrescido)
Davi, sabiamente, escolheu o juízo de Deus, pois – segundo o próprio Davi – “mui grandes são as suas misericórdias”. Os homens são implacáveis, e a mulher apanhada pelos fariseus certamente concordaria com o rei de Israel. Embora tentado pelo diabo, e tendo cedido a tal impulso, o pastor-rei reconheceu seu erro quando confrontado e escolheu o juízo divino direto. No verso 17 do capítulo 21 do primeiro livro das Crônicas, Davi refere-se aos habitantes de Israel como “estas ovelhas”, revelando que sua identidade pastoral jamais foi desfeita. Ele ainda era um pastor, mas suas ovelhas, agora, eram as almas de Israel. Não por menos, foi ele o eleito de Deus para representar Deus na regência de Seu povo.
Jesus não veio para ofertar juízo frio, mas para – alternativamente – oferecer perdão gracioso (i.e., imerecido) aos que se arrependerem (Mateus 18.10-14; Lucas 9.51-56; Romanos 5.6-8).
Graça superabundante é a oferta de Cristo. Uma mais que abundante, transbordante e infinita, fonte de graça a todos os pecadores que ouvirem Sua voz e responderem positivamente ao Seu chamado (João 1.14-16; 4.10-14; 7.38; 10.25-29; Romanos 11.6; Efésios 2.8-9).
Gratos por esse eterno dom devemos viver e, com essa mesma terna e interessada compaixão, ofertá-lo aos que ainda não o conhecem. Esse é o desejo de Deus e o fruto do perdão em nós (2 Timóteo 2.24-26; 1 Pedro 3.15-16): superabundante graça!
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