À semelhança de nosso Pai
- Gile
- 27 de set. de 2019
- 4 min de leitura

Lembro-me, quando ainda criança, de estar na praia – após um dia de muita chuva – a areia, condensada pela água, marcava as pegadas de meu pai. Brinquei, então, de segui-lo, tentando pisar dentro de suas pegadas. Percebi que seus passos eram muito maiores que os meus, mas que, esticando um pouco mais os pés, conseguia pular de pegada em pegada. E, assim, caminhava exatamente onde ele esteve, pulando dentro de cada pegada.
Um pai é o maior exemplo que se possa ter. E o é por herança genética: temos semelhanças físicas inegáveis com nossos genitores porque nos doaram material genético na fecundação, e – mesmo assim – podemos ser diferentes deles. Também somos semelhantes aos nossos pais pois os vemos falar e agir e – mesmo que de modo impensado – somos-lhes semelhantes, a convivência é um poderoso molde. Quem nasce e permanece em determinada região, fala da mesma forma que seus conterrâneos, não por uma questão biológica, mas pela convivência, é a forma do coexistir agindo.
Da mesma forma, nosso Pai celestial é nosso maior exemplo. E se vivemos junto a Ele, seremos-Lhe semelhantes. Contudo, se o mundo em nosso entorno, não Lhe pode ver em nós, certamente, não estamos próximos a Ele. Se o estivéssemos, seríamos como Ele é. A forma do coexistir faria seu trabalho e – como eu na infância seguindo as marcas dos pés de meu pai na praia – andaríamos no mesmo caminho Dele. Se isso não ocorre, se nos perdemos em nossas próprias escolhas exclusivas, então estamos distantes de Deus.
Esse é um bom teste à nossa fé. A Bíblia nos ensina a testá-la a fim de que possamos ter segurança de ainda estar em Cristo: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados”. (2 Coríntios 13.5)
E esse é um bom teste para nossa fé. É interessante como uma criança, após adulta – mesmo que possuindo características físicas semelhantes a seu pai biológico – possuirá vocabulário, entonação e sotaque diferentes dos dele, se viver distante. O pai só pode transmitir seu modo de falar aos filhos com os quais convive, pois essas características não vêm no DNA, elas se transmitem exclusivamente pela convivência. A proximidade de vida é que torna essa transmissão possível.
E é sobre isso que Jesus está falando quando diz: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” (Mateus 5.48)

O que Ele exemplifica é que devemos reproduzir aquilo que observamos em nosso Pai celestial. Mas só o veremos se estivermos próximos Dele. Aqueles que andam distantes de Deus não podem reproduzir a santidade do Pai. Hábitos desconhecidos não podem ser aprendidos.
Jesus está dizendo – fiquem perto de Deus, observem o que Ele é, e façam igual!
O mesmo princípio se aplica novamente em Lucas 6.36: “Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai”.
Pedro também enfatiza esse princípio ao escrever: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo”. (1 Pedro 15-16)
Imagine uma criança que – logo após o nascimento – foi doada a outra família. Quais serão seus hábitos: os de seus pais biológicos ou os de criação? A quem sua forma de falar, pensar e agir se assemelhará? De quem ela tirará o exemplo que a moldará?
Não é difícil concluir que de seus pais de criação, pois serão eles que fornecerão os exemplos pelos quais ela aprenderá. É a seu pai de criação, próximo a ela, que observará e depois reproduzirá o exemplo por meio de suas próprias atitudes. Ela pulará de pegada em pegada, à beira mar, nas marcas que ela conhece.

Conosco também é assim. Se nos aproximarmos do mundo, alijados de Deus, seremos como o mundo é. Representaremos em nosso viver os parâmetros que regem este mundo mal. Mas, se ao invés disso, permanecermos junto Àquele que nos criou, seremos conforme o exemplo que Ele nos concede diariamente:
“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. (1 João 2.15-17)
Fomos feitos, no Éden, à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26). Entretanto, essa imagem foi distorcida sob efeito da transgressão de Adão e Eva. O pecado nos deixou diferentes de nosso Pai, aparentado-nos como se não fôssemos Seus filhos. A humanidade, como um adolescente rebelde, correu em fuga de casa; e, estrada fora, pensou estar libertando-se de seu algoz. Mas o tempo provou que as regras da casa paterna não eram para nos restringir, contudo nos livrar de dores e males (1 Timóteo 1.8). E aquilo que aparentava ser liberdade tornou-se em escravidão. Afinal, a grama do vizinho não era tão verdejante quanto – do lado de cá da cerca – parecia ser. Do mesmo lado da grama, já a pudemos ver seca e cinza. Morta como, de fato, era.
O tempo longe de Deus nos tornou diferentes Dele. A natureza caída, herdada de Adão e Eva, escondeu o caráter de nossa ascendência. A pureza, santidade e amor que possuíamos na presença de nosso Pai perderam-se na distância deformadora de nossa rebeldia. Hoje, olhamo-nos no espelho e já não vemos os traços de nosso Pai.

É preciso lavar essas chagas deformadoras do pecado, e isso só será possível na cruz de Jesus. É somente ali, entendendo que nosso pecado teve consequências profundas e graves, que obteremos o perdão de nossos pecados e uma nova natureza. Nascer de novo é condição sine qua non para entrarmos na casa do Pai novamente. Em erro, Ele não nos readmitirá.
Se queremos a herança que Ele nos deseja dar – a Si mesmo, em eterna companhia – devemos aceitar a cura que Ele propõe.
Então, seremos como Ele é, e todos verão. Como frequentes vezes os filhos são confundidos com seus pais, verão Deus em nós. Pois “aquele que diz que permanece Nele, esse deve também andar assim como Ele andou” (1 João 2.6). E – finalmente – sereis “perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”.




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