Eu Prefiro os Funerais: ponderando sobre o significado da vida
- Gile
- 3 de nov. de 2019
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“DISSE eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade. Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta? Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne (regendo porém o meu coração com sabedoria), e entregar-me à loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu durante o número dos dias de sua vida. Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto. Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie. E fui engrandecido, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria. E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho. E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol”. (Eclesiastes 2.1-11)
A efemeridade fez o pregador chegar à conclusão de que os prazeres terrenos (mesmo os mais saudáveis) não tinham valor algum, uma vez que seu tempo é curto. Nem mesmo posses ou prestígio (ou aquilo que Salomão chama de “bom nome”, Provérbios 22.1) valem, uma vez que também é vaidade (i.e., cairão no esquecimento).
Isso nos conduz à pergunta – então, o que é importante (i.e., o que não é vaidade)?
Embora todas as coisas aqui sejam efêmeras, as conquistas humanas (e mesmo os relacionamentos) não tenham valor algum pelo espectro da eternidade, devemos recordar que Deus tudo trará a julgamento “e, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo” (Apocalipse 20.15).
Por isso o objetivo do pregador (e toda sua visão em Eclesiastes) é evitar que os homens cometam o mesmo erro que o rico da parábola de Lucas 12.16-20. O erro desse homem (e de 99 por cento das pessoas) é avaliar (contemplar, planejar e viver) a vida apenas pelo espectro terreno, como se não houvesse nada além da morte, e pior, como se fossem viver para sempre.

Um equívoco de análise fatal! Que enredou bilhões em questões terrenas de filosofia, política, arte e etc. E obscureceu-lhes a visão do eterno. Perder de vista o eterno é a grande causa de fracassos na vida com Deus. Temos nosso horizonte abrumado quando paramos de olhar somente para Jesus.
O objetivo da carreira da fé não é uma vida tranquila e livre de problemas, mas cumprir o propósito de Deus em nossas vidas.
Para isso precisamos nos lembrar de que conhecer a Jesus não é teorizar sobre Ele; não se pode tomar conhecimento de Cristo em um curso de Teologia. Somente pode ser conhecido quando andamos com Ele. E neste andar, tornamo-nos semelhantes a Ele até que passamos a “andar assim como Ele andou” (I João 2.6).
Andar com Deus em um mundo que se opõe a Ele, obviamente, significará oposição a nós também. Embora vivamos num mundo que simplesmente ignora Jesus, estaremos Nele, sabendo que Ele “é o verdadeiro Deus e vida eterna”, pois “sabemos que estamos no verdadeiro”. (I João 5.20)
Em Ezequiel, capítulos 9 a 11, Deus deixa de estar no templo, em Jerusalém. Ele se retira da cidade. No capítulo 43, retorna fazendo uma bela promessa, além de revelar a razão de Seu afastamento: “agora, lancem eles para longe de mim a sua prostituição e o cadáver dos seus reis, e habitarei no meio deles para sempre” (v.8).
Os reis cujos cadáveres deveriam ser lançados fora eram traidores da aliança com Deus. Rei após rei quebrou a aliança de Deus com Israel, seguindo após falsos deuses e praticando aquilo que Deus revelou como erro. Aproximar-se de Deus requer abandonar aquilo que ofende a santidade de Deus. Ele é o padrão de verdade.
O mesmo Espírito que ressuscitou Jesus nos dá poder, sendo Cristo o nosso cabeça, temos o mesmo poder para vivermos uma vida poderosa – acima do pecado, das potestades e principados (Efésios 1.15-23).
Às vezes, estamos exteriormente em Cristo, mas nossos corações estão distantes Dele. Nosso anseio deve ser governado por Deus (Colossenses 3.1-3).
O mais importante no relacionamento com Deus não é o que Ele faz, mas quem é. A questão, portanto, é: porque Deus nos promete fazer tantas coisas?

Porque o segredo neste relacionar-se é saber quem Deus é através do que Ele faz! Para entendermos tudo o que Deus está fazendo e fará em nossas vidas seria-nos exigido ter uma mente infinita. Sabendo que tal coisa é impossível, alegramo-nos e nos satisfazemos em saber que o Senhor trabalha para o bem daqueles que Lhe amam (Salmos 127.1,2; Romanos 8.28).
Mais uma vez o pregador choca o pensamento popular ao revelar outra extraordinária verdade:
“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria. (…) Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio”. (Eclesiastes 7.2-4,8)
E, assim, voltamos ao princípio – a efemeridade da vida e a “inutilidade” dos prazeres terrenos. O agora parece mágico, em certo sentido, e – por algum tempo – acreditamos que ele será eterno. Então, vem a realidade com seu rolo compressor e prova que o agora, este pequeno lapso de tempo, não dura mais do que aquilo que é: apenas uma pequena partícula perdida de tempo, vaidade!
“A casa onde há luto” é o lugar do pesar, ninguém chega mais perto da verdade do que o enlutado. Pois lá “se vê o fim de todos os homens”. E há um aviso a esse respeito – “e os vivos que o tomem em consideração”. Ele ainda finaliza, contrariando nossas expectativas e a visão reinante em nosso mundo farto de comédia, risos e movido a entretenimento: “melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração” – e por isso – “o coração dos sábios está na casa do luto”. E, como a maior parte das pessoas de hoje, intoxicadas com netflix, redes sociais, afins e toda sorte de entrenimento e superficialidade – “o [coração] dos insensatos, [está] na casa da alegria”.
Ele, então, dá o tiro de misericórdia em nossa cultura superficial, temporal e ansiosa: “melhor é o fim das coisas do que o seu princípio”. E isso me faz pensar, caro amigo: e o seu, onde será?
É minha decisão: entre o entretenimento frívolo dos nossos dias e a dor reveladora da perda pelo partir para eternidade, eu prefiro os funerais!
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