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Não é sobre você!

  • Gile
  • 3 de jan. de 2020
  • 6 min de leitura

“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (Salmos 19.1-4).


É isso mesmo que você leu – a vida não é sobre você! Não se trata de como você se sente, do que sente, do quão sozinho se sente, de sua autoestima. Não é sobre isso. Por anos e anos, você ouviu sobre o quanto é importante elevar a sua autoestima, que seu problema é uma baixa autoestima. Mas, se fosse esse o problema, não estaria se sentindo mal por ter sido contrariado, por ter ouvido de alguém que estava errado. O problema é justamente o oposto – temos uma autoestima elevadíssima, um enorme orgulho; um altar em nosso interior e nele está nosso próprio eu, diariamente cultuado por nós mesmos.

Não permitimos que ninguém nos diga que estamos errados. Se alguém nos disser a verdade – que estamos em erro – logo colocamos o dedo em riste e acusamos esse alguém de juiz, somos rápidos em afirmar: "você deveria me amar mais e me julgar menos!" Dizemos isso porque temos uma idéia totalmente errada sobre o que é o amor.

Achamos que amar significa que os outros digam amém para tudo o que fizermos. Os outros devem concordar com o que fizermos. Eu proponho uma ilustração a fim de poder ajudá-lo a compreender melhor o que estou dizendo. Imagine que você está no topo de uma montanha, acabou de escalá-la e agora irá descê-la. O nó que está fazendo está errado, e se desfará no meio da descida, a quilômetros do chão. Seu amigo vê isso e o adverte: "você está fazendo isso do jeito errado, vai cair da montanha no meio da descida e morrer lá embaixo". Você fica muito decepcionado com ele e então o acusa de o julgar, e de não amá-lo e compreendê-lo, até diz – “você deveria me amar mais e me julgar menos”. Mas amar é justamente o que ele está fazendo. Se não fosse seu amigo, não diria nada, talvez até concordaria com seu nó – educadamente – daria um tapinha nas suas costas e diria que está tudo bem. Mas porque é seu amigo de verdade e o ama, ele diz uma verdade necessária para salvá-lo da morte certa.

Em um certo dia, Jesus estava diante de uma multidão raivosa, pronta a apredejar uma mulher pega em pleno ato de adultério. A lei de Moisés exigia o apredejamento, afirmaram os fariseus. Jesus, então, coloca as coisas como devem ser – “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (João 8.7). E como a multidão reagiu à resposta de Jesus? – “Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava” (João 8.9). Se a descrição de João terminasse aí, seria incompleta e nos transmitiria a mensagem errada, louvaria a libertinagem e condenaria o verdadeiro amor, o qual anda de mãos dadas com a justiça.

O Espírito Santo, então, inspira João a prosseguir em seu relato: “Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (João 8.10-11). Essas linhas seguintes são necessárias a fim de não termos uma visão errada sobre o que Jesus está fazendo. Ele não está dizendo - “ok, ela é pecadora, mas vocês também são. Então deixem ela pecar em paz”. Não, não é isso o que Ele está dizendo. O que Ele diz é muito preciso é inconfundível - “Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais”. Vá e não peques mais. As pessoas se esquecem dessa parte. Jesus está dizendo que ela está perdoada – pois viu o seu coração, e o quanto se humilhara pelo pecado do adultério cometido – e, ao mesmo tempo, está dizendo, "mas não volte a fazer isso, não peques mais". Isso é o amor, é o perdão ao arrependido e a advertência para que não volte a viver fora da vontade de Deus.

Quão diferente é o amor verdadeiro da imagem falsa e distorcida que o mundo criou a respeito dele. Amar – nos dias atuais – é dizer amém sempre. Jesus disse àquela mulher – seu nó está errado, você vai cair da montanha e colidir fortemente com o chão. Arrume isso. Eu dou a você uma nova chance hoje. Graça e santificação seguem o arrependimento sincero.

Você sabe, há uma idéia errada sobre o que Cristo veio fazer na terra. Alguns até dizem que veio estabelecer justiça social. Mas isso seria incorrer no mesmo erro de alguns judeus daqueles dias, que criam que Jesus seria coroado rei (político) de Israel e expulsaria os romanos de Canaã. Jesus, entretanto, foi muito claro sobre o seu reino, respondendo de modo didático a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo” (João 18.36). Ele não veio para assumir um trono político e governar um império. Ele desceu até nós para nos salvar de nossos pecados e estabeler um reino espiritual em nossos corações. Ele não está interessando em comandar o país, mas em governar nossas vidas. Não há direção mais segura do que a que Ele provê.

Mas nós relutamos com isso, porque já temos um rei: nosso próprio eu. Em verdade, é mais do que um rei para nós, é um deus. Jesus também nos fala algo a respeito disso, é a parábola do tesouro escondido:

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo” (Mateus 13.44).

É interessante perceber que aquele homem encontrou um tesouro, mas que não podia tomá-lo porque o campo em que o encontrou pertencia a outrem. Ele então vai e – muito alegre – vende tudo o que tem para comprar o campo e obter aquele tesouro.

O que você está disposto a vender para obter o tesouro maior que é o reino de Deus? Você venderia tudo? Abriria mão do seu orgulho, do seu eu, de estar certo e ter razão? Até onde iria para ter esse tesouro?

Eu só sei que este homem não teve dúvidas, ele vendeu tudo que possuía para herdar o maior tesouro, o reino de Deus! Nesse reino Cristo governa, e não nós mesmos. Será que você está disposto a deixá-lo conduzir sua vida? Apontar seus erros e corrigí-los? Conduzí-lo a uma vida de perfeição? Ou irá dizer a Ele – "achei que você fosse diferente, que me aceitaria". Sim ele o aceita, mas você O aceita? Você abre mão de si por amor Àquele que morreu por você? Até onde somos capazes de sermos hipócritas e culpar Deus, que nos amou até a morte, de não nos amar o suficiente? Olhe-se no espelho e veja o que essa cultura de superautoestima fez com você.

Você pode topar com a ponta de um baú um dia desses, pode até parar e ficar curioso em saber o que há lá dentro. Pode até investir um tempo em cavar e abrir essa caixa para ver o que lá há. Mas se não vender tudo o que tem, nunca poderá comprar o campo para ter direito a esse tesouro. Não se esqueça disto – “Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 4.7). Arrependimento é a chave que abre esse baú dos tesouros celestiais. Mas essa chave custará tudo, inclusive o seu orgulho. Você está disposto a pagar esse preço?

Porque no fim, não é sobre você ou sobre mim. A vida é sobre Seu autor. Deus é Deus e sempre será. Ele é Deus desde a eternidade, antes mesmo de existirmos. Não havia um mundo onde seres imperfeitos e pecadores acusavam Deus, e Ele já era Deus. E, quando esse mundo deixar de existir, Ele ainda será Deus – assentado em Seu trono de majestade, aceitemos isso ou não. Então, pare de perseguir a imagem que vê no espelho, pare de bajulá-la. Ela é o reflexo de um caído. Olhe para além de seu umbigo, e veja a glória do Criador espalhada por toda a criação. Sua dor se desfará quando parar de olhar para si e colocar sua atenção no Deus que vive eternamente. Deixe Deus ser senhor sobre você. Destrone a si mesmo para que Ele possa o governar, como deve ser. Então, perceberá que não, a vida não é sobre você!

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