Ele é antes de todas as coisas
- Gile
- 28 de ago. de 2017
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de dez. de 2020

Você termina em um mar profundo de decepção quando sonha com as estrelas, mas acorda em um dia nublado de inverno – chuvoso, cinza e entediante.
A expectativa é a mãe da decepção. E as nossas vidas geralmente estão muito abaixo de nossas expectativas, por isso vivemos sempre nessa atmosfera de decepção, porque temos expectativas que não correspondem à realidade – nossa mente está em um mundo escapista de céus azuis, campos floridos, sonhos realizados: vidas perfeitas; e a nossa realidade é tão cheia de frustrações - é uma estrada esburacada, cheia de curvas e mal sinalizada!
A verdade sobre nossas vidas terrenas (e alguém, pelo amor de Deus, tinha que – finalmente – ter coragem para dizer isto!) é que ela se parece mais com uma rota incerta de frustrações e decepções, projetos não realizados, obras inacabadas, sonhos que nunca serão realidade – existirão no papel e na imaginação, mas nunca na vida real. Precisamos aprender a lidar com isso: projetar sonhos realistas, pisar no chão, aprender a andar com os pés e não com a cabeça!
O realismo pode parecer duro, chato; mas jamais gera frustração.
É fato, também, que aquilo de que afirmamos precisar – realmente – não precisamos. Não poucas vezes, confundimos o “eu quero” com o “eu preciso”! A maior parte das coisas que acreditamos precisar, verdadeiramente, não necessitamos. Um bom exemplo é uma Ferrari Enzo. Eu gostaria de ter uma, e ir a todos os lugares com ela, seria uma experiência fantástica. E até diria – eu preciso de uma! Quando, na verdade, eu não preciso de uma, eu apenas gostaria de tê-la!
Posso ir a qualquer lugar que eu precise com qualquer outro carro, e até de ônibus ou bicicleta. O fato é que eu acredito precisar dela, mas posso fazer tudo o que faço com ela com qualquer outro meio de transporte.
Não é uma questão do que eu necessito, e sim do que eu quero. Constantemente confundimos este conceito (ou nos deixamos confundir!).
Mas isso não se limita a coisas, também se aplica a pessoas.
Muitos acreditam que necessitam de determinada forma de relacionamento, que se não se casarem serão incompletas nesta existência.
“Não vou ter alguém que me ajude ou com quem possa dividir minhas emoções se não estiver casado” - alguém diria. Ou, “se não tiver filhos, serei incompleta”.
Mas isso não é verdade!
Vejamos o que a realidade tem a nos provar: algumas das pessoas mais satisfeitas e felizes na vida, não foram feitas para a vida matrimonial ou para a geração de filhos, e tiveram vidas plenas mesmo sem essas experiências. Seus legados não foram levados adiante por filhos (os quais jamais tiveram) mas por milhares de outras pessoas sem com as quais – de fato – possuíssem laços sanguíneos.
Embora aquelas coisas tenham seu valor, importância e sacralidade espiritual – jamais negamos isso – são dispensáveis para uma vida plena.
Quer outro exemplo? Olhe para a Trindade. A Trindade cristã é feliz, autoexistente e satisfeita em seu próprio relacionamento interno. Deus não precisa de nós. Ele nos quer. E isso é muito diferente.
Se Deus precisasse de nós, Ele imploraria por nossa companhia. Mas – simplesmente – não precisa. Ele existe desde sempre, e desde que existe sempre esteve feliz e pleno no relacionamento da Trindade. O Pai ama o Filho e o Espírito Santo. Ele encontra o mais profundo deleite na companhia de ambos. E Estes amam o Pai.
Deus não necessita de mais nada! Ele, sequer, necessitaria criar a matéria. O mundo espiritual já seria mais do que suficiente. E digo “mais do que suficiente”, porque este sequer é necessário. Nem anjos, nem céus, nem nada mais seria necessário.
E por que Ele fez essas coisas então?
Simples – porque Ele quer. Por favor, entenda este conceito: Ele quer, Ele não precisa!
Muito mal comparando: é como uma socialyte no shopping com um cartão de crédito – ela sai de lá com uma pilha de pacotes, coisas das quais jamais precisou, mas que ela, simplesmente, quer!
É uma comparação ruim, certamente. E isso por uma breve razão: a motivação por trás das atitudes de ambos.
A socialyte faz compras para egoisticamente se satisfazer. Deus cria tudo para que todas as coisas criadas compartilhem do prazer de viver em Sua companhia!
Que abissal diferença!
Chegamos, finalmente, onde eu gostaria (desde o princípio do texto!) - a palavra-chave é motivação!
O que está por trás das suas ações? O que pretende com elas e quem as governa?
Jeremias tem muito a nos ensinar sobre isso:
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações.” (Jeremias 17.9-10)
Diante disso, podemos voltar ao exemplo da socialyte: o que a motiva é seu coração corrupto, ela se deixou enganar por ele. O “eu preciso” usado no lugador do “eu quero” é outro exemplo do coração por trás das ações humanas!
Agora, acho que chegamos ao ponto – não se trata apenas de confundir um grande conceito como esse, mas de entender porque isso ocorre. E a resposta a isso certamente será: um coração corrupto!
Ele se corrompeu no Éden. Ou, como eu gosto de dizer – desde que o homem tropeçou no Éden, continua caído!
Só há uma forma de se libertar desta queda, coração e conflitos. Se o homem está caído desde o Éden, também é verdade que ele pôde se levantar desde que a cruz surgiu sobre o Monte Calvário.
Se o Éden é símbolo da comunhão com Deus perdida, a obra de Cristo na cruz do Calvário é o símbolo da ponte perfeita!
E tudo tem grande relação com o início desta reflexão: “você termina em um mar profundo de decepção quando sonha com as estrelas, mas acorda em um dia nublado de inverno – chuvoso, cinza e entediante”. Porque isso é o que acontece quando nos afastamos do Pai. Nós acreditamos que precisamos de algo além Dele se nos deixamos conduzir pelo coração egoísta e caído da socialyte.
Tudo se resume a Deus e ao propósito Dele ao nos criar – somos feitos para Ele, estarmos o mais perto possível Dele!
Não tente construir uma casa com peças de lego. Elas são boas para a diversão infantil, mas não se prestam para a construção civil.
Enquanto estivermos dentro do propósito de Deus – na criação, e refeito na cruz – nosso coração estará mortificado e com suas ações restringidas.
Jamais sentiremos que precisamos de algo além Dele, e – finalmente – poderemos experimentar o que significa:
“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Colossenses 1.13-20).
Amém!
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