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Esperando na chuva

  • Gile
  • 3 de mar. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 6 de mar. de 2022


Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se e voltou vendo. (Lucas 9.1-7)

Através da janela embaçada, você poderá vê-lo. Estique seu pescoço apenas um pouco mais e contemple um símbolo da dor. Enquanto estas pequenas gotas caem — gotas ignoradas por todos nós, todos os dias —, mais e mais fica ensopado. Afogando-se, assim, todos os dias, neste interminável oceano de dor. Seus sentimentos foram turvados pela chuva torrencial, que violenta e interminavelmente cai. Não pode mover-se, assim pensa. E nós, com profunda comiseração, contemplamos — inertes — a ode máxima do sofrimento.

Essa cena constante e inquebrantável produziu em mim profunda tristeza. Não sinto dó do sujeito encharcado. Sinto tristeza mortal. Vivemos num mundo veloz em prover perguntas que destroem convicções. Sempre pronto a lançar mais uma pá de terra sobre a fé alheia. O mesmo que jamais move-se, ainda que apenas um milímetro, para conceder respostas ao indivíduo confuso. Fala-se muito no problema, mas ninguém há que importe-se com a cura. Falar — e, assim, evidenciar a dor — é muito mais importante do que abordar a solução.

Este mundo apenas quer fazê-lo sangrar. Contudo, jamais agirá a fim de conter a hemorragia. Aplaudem a dor. Cultuam o sofrimento. Há, em toda parte, altares aos desajustes (perdoe-me o eufemismo) da vida. Observe-o molhar-se um pouco mais. Deixe-o encharcar-se com mais estas gotas. E veja, através desta segura janela, este ninguém afogar-se lá fora, sozinho.

Não posso deixar de lembrar-me do homem cego. Todos aqueles hipócritas fariseus queriam saber o que houve. Como havia recuperado a visão. Certamente, estavam preocupados com o bem-estar daquele homem, não é mesmo? Não, não é! Eles apenas queriam prestar seu culto à dor. Tão somente ansiavam por torturar o ex-cego.

Alguns deles parecem ter sobrevivido ao tempo, e chegado até nós:

“Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo. Perguntaram-lhe, pois: Que te fez ele? como te abriu os olhos? Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e não atendestes; por que quereis ouvir outra vez? Porventura, quereis vós também tornar-vos seus discípulos? Então, o injuriaram e lhe disseram: Discípulo dele és tu; mas nós somos discípulos de Moisés. Sabemos que Deus falou a Moisés; mas este nem sabemos donde é. Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me abriu os olhos. Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito. Mas eles retrucaram: Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? E o expulsaram.” (João 9.24-34)

Ninguém ali queria — realmente — saber o que houve com o homem, apenas queriam saber do problema dele e, obviamente, buscar ocasião de acusar Jesus. Aduladores de problemas. São estes os sujeitos mesquinhos, por certo, que fecham suas portas ao pobre encharcado. Deliciam-se ao contemplar aquela pobre alma molhada até os pensamentos, enquanto aguarda que — por um milagre — a chuva cesse. Ninguém abrir-lhe-á a porta. Entretanto, todos permanecerão em suas janelas a contemplá-lo. E este é o resumo: um desafortunado ao abrigo do céu nublado, embebido na fúria dos céus, aguardando inutilmente que algo aconteça.

“Pare”, sussurra esperançosamente. Assim os que sofrem esperam, inutilmente, que sua dor seja calada pela ajuda que vem deste mundo.

“Meu psicólogo ajudar-me-á”, sussurram esperançosamente.

“Este novo remédio, finalmente, resolverá minha ansiedade”, crêem com força e esperança.

“Este grupo do Facebook dará fim à minha solidão”, apontam a si mesmos.

Mas a chuva não cessa. Ela só cai, mais e mais. O problema de sussurrar ao vento, esperando que a chuva pare, é pedir a quem não pode que o ajude. E é exatamente o que vemos neste mundo. O culto ao problema não resolverá sua dor. Seu luto não desvanecerá, magicamente, através de um programa de psicologia ou psicanálise. Sinto informar-lhe, mas este remédio não curará seu vazio interior. A chuva ainda cairá. E todos os que juraram ajudá-lo, na verdade, apenas olham através da janela enquanto você continua encharcando-se.

Muitas pessoas passaram por aquele homem até que Cristo, finalmente, desse fim à sua dor. Ele pôde enxergar graças ao que saiu da boca de Jesus, lavando-se imediatamente no tanque “do enviado” (Siloé em Hebraico). As palavras de Jesus são mais do que apenas simples palavras, elas curam. Quando você, mais do que apenas souber, crer profunda e enfaticamente nisso; a chuva não o molhará mais. Ela seguirá descendo, mas sem afetá-lo. Não precisará mais de que alguém abra-lhe a porta. Pois Aquele que é a Porta (João 10.9), abrir-se-lhe-á a você! Nunca mais estará, inutilmente, esperando na chuva!

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