Nossa Esperança: 4. O Princípio das Dores
- Gile
- 9 de nov.
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Atualizado: 7 de dez.

Sobre o Princípio das Dores, devemos entender:
Quando ocorre e por quê;
Como ele se relaciona aos eventos que o precedem e o sucedem;
A quem se dirige;
Qual sua relação com a profecia de Ez 38-39;
Quais seus marcadores temporais de início e fim.
O PARTO E SUAS FASES
“Princípio das dores” (Mt 24.8; 1ª Ts 5.3 – ARA93) ou “dores de parto” (Rm 8.22 – ARC69) aparece na Escritura como a figura de uma parturiente em sofrimento, iniciando o trabalho de parto. Algo está prestes a ocorrer; no entanto, antes que surja, deve passar por fases de sofrimento – como ocorre no trabalho de parto.
A fase inicial do trabalho de parto, aqui descrita como “princípio das dores”, corresponde à dilatação. Neste período há contrações mais espaçadas e menos intensas, que dilatam o colo do útero para a passagem do bebê. Essas contrações aumentam em intensidade e freqüência à medida que nos aproximamos da próxima fase, o período expulsivo.
No período expulsivo, temos contrações mais intensas e freqüentes que conduzem o bebê do útero ao ambiente externo. É o período mais doloroso e angustiante do trabalho de parto. Genuinamente, uma Grande Tribulação à parturiente.
É neste contexto que Jesus revela os incidentes iniciais do capítulo 24 de Mateus. Após descrever vários eventos assustadores, avisa seus ouvintes que coisas piores do que essas estarão por vir: “porém tudo isto é o princípio das dores” (Mt 24.8). A metáfora é clara – a criação é apresentada na figura de uma mulher em trabalho de parto, e os eventos descritos por ele até o verso 8 são apenas o princípio das dores, a fase de dilatação. O período expulsivo ainda nem começou.
Se a criação estará em trabalho de parto, convém questionar – o que ela está prestes a dar à luz? O reino milenar de Cristo, profetizado por todo o Antigo e Novo Testamento (Ap 12.1-5; 20.1-6; Sl 2.7-9; Zc 14.9; Is 9.6,7; 11.1-10). Mas, como todo trabalho de parto, não ocorre sem que haja dor.
A próxima fase do “trabalho de parto” da criação será vista em outro capítulo: A Grande Tribulação, equivalente ao período expulsivo, muito mais dolorosa. É importante percebermos que o trabalho de parto completo, Princípio das Dores e Grande Tribulação, constitui o que convencionamos chamar “Tribulação”, e dura cerca de 7 anos, uma semana de anos. E cada uma das duas fases do trabalho de parto prolonga-se por cerca de 3 anos e meio.
Paulo descreve o mesmo evento em 1ª Ts 5.3 e utiliza a mesma figura, a de uma mulher em trabalho de parto. Ele inicia sua descrição avisando:
Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão.
As dores de parto iniciam sem aviso prévio, assim também o juízo que está prestes a vir será sem sinais premonitórios. O arrebatamento, como já discutido, ocorre de modo muito rápido e invisível aos que dele não tomam parte. Os restantes da humanidade ver-se-ão envolvidos nos eventos do Princípio das Dores quando menos esperarem. E, mais do que isso, quando pensarem finalmente terem obtido a prometida paz mundial, feita por um líder global supostamente pacifista.
UMA VISÃO PANORÂMICA DO PRINCÍPIO DAS DORES
Já vimos anteriormente que o império do anticristo tem início com dez reis, dos quais três caem por ação do próprio anticristo, o qual assume seus lugares. Após um curto período de tempo, os demais 7 governantes darão seu poder ao anticristo, que governará como déspota, embora prometa a paz.
Portanto, continuando de onde paramos no capítulo anterior, o que o anticristo faz assim que ascende ao poder absoluto. Sobre isso Dn 9.27 (NAA1) diz-nos:
Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana. Na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais. Sobre a asa das abominações virá aquele que causa desolação, até que a destruição, que está determinada, seja derramada sobre ele.
A revelação dada a Daniel condensa sete anos em um único versículo, dando-nos uma visão panorâmico do que ocorrerá no governo do anticristo:
Ele faz uma “firme aliança com muitos”. Aparentemente será uma aliança forte, bem estabelecida e respeitada pelos que se aliançarem com ele, cuja duração prevista é de sete anos;
Na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais. A citada aliança parece prever a liberdade de culto para sacrifícios, de forma que uma forma de adoração, anteriormente permitida, é proibida. Isso ocorre “no meio da semana”; i.e., após três anos e meio do início do pacto;
Sobre a asa das abominações virá aquele que causa desolação. Um evento específico, “sobre as asas das abominações virá aquele que causa desolação”, está relacionado à quebra do pacto inicial, “uma firme aliança com muitos”, e dá início a um novo período.
Há muitas coisas apenas neste versículo. Antes de tratarmos delas, devemos conhecer seu correlato em Dn 12.11 (ARA93):
Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias.
CRONOLOGIA GERAL DO PRINCÍPIO DAS DORES
Antes de compreendermos mais pormenorizadamente os eventos do Princípio das Dores, vamos organizar seus eventos numa seqüência cronológica:
1. Dez reis que governam sobre a maior parte do mundo em corregência;
2. Três deles caem por ação do anticristo, que passa a governar com os sete;
3. Pouco tempo depois, os sete cedem seu poder ao anticristo, que reina como déspota;
4. O anticristo faz um pacto de paz global de sete anos, e há uma falsa impressão de paz no mundo. Contudo, essa impressão dura pouco;
5. Junto ao pacto de paz, o anticristo estabelece um culto global (a Babilônia religiosa), que nada mais é do que a junção de todas as falsas religiões do mundo, e proíbe o culto ao único verdadeiro Deus;
6. Cumpre-se a profecia de Ez 38-39;
7. Após 3 anos e meio, ele quebra o pacto, interrompendo o sacrifício da falsa religião pseudojudaica em Jerusalém e estabelece um novo culto, baseado na abominação desoladora e no culto a si mesmo – encerra-se, assim, o Princípio das Dores e inicia-se a Grande Tribulação.
QUATRO DOS SETE SELOS – OS QUATRO CAVALEIROS DO APOCALIPSE
Enquanto todos esses eventos ocorrem na Terra, Deus ordena juízos desde os céus. João os vê em sua visão e os descreve em Apocalipse (gr., Apokalypsis – pt., "revelação"). Tais juízos, referentes especificamente ao Princípio das Dores, estão no capítulo 6.1-8, que é correlato à descrição feita por Jesus em Mt 24.3-8.
O texto de Mt 24.1-31 – e seus correlatos em Mc 13.1-27 e Lc 21.5-28 – são fundamentais para compreendermos os eventos do fim. Jesus faz um resumo dos eventos, dando-nos uma visão panorâmica do assunto. Há, contudo, alguns dados muito importantes, revelados nesses textos, que nos ajudam a compreender a descrição tanto de Daniel quanto de Apocalipse a respeito das últimas coisas. Vamos começar analisando o texto de Mt 24.1-31 – ARA93:
Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século. E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores. Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo. E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim. Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça a tirar de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados. Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres. Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.
Jesus e os discípulos estavam no templo em Jerusalém, quando alguns comentaram sobre sua arquitetura (Lc 21.5). Em resposta à observação, Jesus faz uma declaração que, aparentemente, preocupou os discípulos: “Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada” (Mt 24.2).
Ao que parece, os discípulos receberam essa afirmação impactante com espanto e, mais adiante, pedem a Jesus que lhes explique como isso se dará (Mt 24.3f; Mc 13.3,4; Lc 21.7).
Então, Jesus explica como serão esses eventos. O texto que lemos acima (Mt 24.1-31) é, portanto, a resposta de Jesus à pergunta inicial dos discípulos, “quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século”.
Preste atenção à pergunta, porque a resposta está de acordo com o comando da pergunta. “Comando” é a ação exigida pelo verbo e a construção gramatical que o envolve na pergunta. Quando uma pergunta é formulada, o “comando” (qual informação deseja ser conhecida) deve estar claro. Portanto, analisemos o “comando” da pergunta dos discípulos nos correlatos de Lc 21.7 – “Perguntaram-lhe: Mestre, quando sucederá isto? E que sinal haverá de quando estas coisas estiverem para se cumprir?” e Mc 13.4 – “Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-se”.
Veja a mesma pergunta descrita pelo três evangelistas:
Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século. (Mt 24.3f – grifo acrescido)
Perguntaram-lhe: Mestre, quando sucederá isto? E que sinal haverá de quando estas coisas estiverem para se cumprir? (Lc 21.7 – grifo acrescido)
Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-se. (Mc 13.4 – grifo acrescido)
A resposta de Jesus é formulada de forma a responder a pergunta acima, que é “quando essas [a destruição do templo] coisas acontecerão?” e “que sinal haverá da Tua [segunda] vinda?”
Por isso Jesus une em Sua resposta eventos que ocorrem logo após o arrebatamento e, percorrendo de modo geral a Tribulação como um todo, chega aos eventos mais finais, no fim da Grande Tribulação e Seu retorno à Terra. Sua resposta necessita abarcar os eventos da destruição do Templo, que viria a ocorrer cerca de 40 anos após este episódio, e também o futuro distante, quando o anticristo viria a governar o mundo por breve período antes da segunda vinda de Cristo.
Agora, entendendo isso, podemos verificar a resposta de Jesus.
Sabemos que o templo foi destruído pelas tropas do general romano Tito em 70 d.C. Foi quando a profecia de Jesus sobre a destruição do templo cumpriu-se. No entanto, vemos que muitos dos eventos descritos aqui não ocorreram ainda. O motivo disso é que se trata de uma profecia de duplo cumprimento. Ou seja, a profecia de Jesus aplica-se em parte a eventos que ocorreram no primeiro século (respondendo à primeira pergunta dos discípulos – quando isso [destruição do templo] ocorrerá?) e em parte a eventos que ocorrerão no fim dos tempos (respondendo à segunda pergunta – que sinais haverá da Tua vinda?), quando o anticristo e suas tropas sitiarão Jerusalém na batalha do monte Megido (hb., Har Megiddo; pt., "Armagedom" ou "monte Megido").
Agora, vejamos o texto de Apocalipse 6.1-17; 8.1-6:
Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer. Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada. Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho. Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra. Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram. Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se? (...) Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora. Então, vi os sete anjos que se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas. Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos. E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto. Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar.
Você percebe a uniformidade entre os quatro primeiros selos? Os quatro primeiros selos são sempre cavaleiros em seus cavalos, cada qual trazendo um juízo. Os três selos restantes são diferentes dos primeiros quatro e entre si. Isso marca com clareza uma diferença de tempo entre os quatro primeiros e os três restantes. Os quatro primeiros referem-se ao mesmo período, Princípio das Dores; já os três restantes, à Grande Tribulação. O sétimo selo traz consigo os juízos das sete trombetas. A última delas anuncia a vitória de Cristo no Armagedom. Logo, iniciando no primeiro selo (o cavaleiro e o cavalo brancos) até a última trombeta, temos um resumo de toda a Tribulação. Como o propósito deste capítulo é examinar apenas o Princípio das Dores, vamos nos limitar a ele. Discutiremos a Grande Tribulação, seus juízos e símbolos em um capítulo posterior.
Façamos um exercício de comparação entre o texto de Mateus 24.1-8 e Apocalipse 6.1-8.
Primeiro Selo. Falsos cristos em Mateus 24.5 e o falso Cristo (o anticristo) em Apocalipse 6.2:
E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. (Mt 24.4,5)
Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer. (Ap 6.1,2)
Segundo Selo. Guerras nos versos 6 e 7 de Mateus 24 e o segundo selo em que a paz é tirada da terra em Apocalipse 6.3,4:
E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares. (Mt 24.6,7)
Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada. (Ap 6.3,4)
Terceiro Selo. Fomes no v.7 de Mateus 24 em paralelo à abertura do terceiro selo, um cavaleiro montado em um cavalo preto com uma balança em suas mãos e voz anunciando escassez de alimentos em Apocalipse 6.5-6:
Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares. (Mt 24.7)
Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho. (Ap 6.5,6)
Quarto Selo. Terremotos e reino contra reino (guerras) no v.7 de Mateus 24, (epidemias também são descritas no texto paralelo de Lucas 21.11) e o quarto selo – um cavaleiro montado em um cavalo amarelo, chamado “Morte” em Apocalipse 6.7,8, que traz morte por espada (guerra), fome e por meio de feras da terra:
Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares. (Mt 24.7)
Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra. (Ap 6.7,8)
Poderíamos continuar nossa análise comparativa com o quinto selo e adiante, mas isso faremos quando tratarmos da Grande Tribulação. Por enquanto, basta-nos entender que o quebra-cabeça dos selos pode ser melhor compreendido pelo capítulo 24 de Mateus (e seus correlatos em Marcos 13 e Lucas 21).
Em suma, o Princípio das Dores vai até Mateus 24.8 (“porém tudo isto é o princípio das dores”) e seu equivalente, o quarto selo (Ap 6.8). Os 4 primeiros selos são justamente os quatro cavaleiros. O que vêm a seguir já constitui os últimos 3 anos e meio da Tribulação – ou seja, do quinto selo em diante – e será tratado em outro capítulo, onde seguiremos com a análise comparativa entre Mateus 24 (e seus correlatos em Marcos e Lucas) e Apocalipse.
GOGUE E MAGOGUE, A PROFECIA DE EZEQUIEL 38-39
Analisaremos a partir de agora a interessante profecia de Gogue e Magogue, descrita nos capítulos 38 e 39 do livro de Ezequiel. Não devemos confundi-la com a profecia de Gogue e Magogue registrada em Apocalipse 20.7-11, que descreve um evento no final do Milênio. As duas profecias são distintas e referem-se a eventos distintos, segundo acreditamos.
Por que lidar com Ez 38-39 neste momento? Porque muitos entendem que a referida profecia refere-se a um evento no início do Princípio das Dores. Minha posição coincide com a deles, já que também creio no Pré-milenismo Dispensacionalista Pré-Tribulacionista.
A Escritura descreve o exército de Gogue e os reunidos a ele, "dispõe-te, tu e toda a multidão do teu povo que se reuniu a ti, e serve-lhe de guarda" (v. 7). É um grande número, descrito como "multidão". Gogue é o seu guarda, referindo-se a ele como o cabeça dessa aliança militar.
O verso 9 confirma o anteriormente dito: “Então, subirás, virás como tempestade, far-te-ás como nuvem que cobre a terra, tu, e todas as tuas tropas, e muitos povos contigo”.
Há, portanto, uma coalizão de povos, que é descrita como “e muitos povos contigo”.
O intento de Gogue é-nos revelado:
Assim diz o Senhor Deus: Naquele dia, terás imaginações no teu coração e conceberás mau desígnio; e dirás: Subirei contra a terra das aldeias sem muros, virei contra os que estão em repouso, que vivem seguros, que habitam, todos, sem muros e não têm ferrolhos nem portas; isso a fim de tomares o despojo, arrebatares a presa e levantares a mão contra as terras desertas que se acham habitadas e contra o povo que se congregou dentre as nações, o qual tem gado e bens e habita no meio da terra. (vv. 10-12)
O verso 8 revela quando isso se dará, em que lugar e contra quem:
No fim dos anos, virás à terra que se recuperou da espada, ao povo que se congregou dentre muitos povos sobre os montes de Israel, que sempre estavam desolados; este povo foi tirado de entre os povos, e todos eles habitarão seguramente.
Será no “fim dos anos”, contra “o povo que se congregou dentre muitos povos sobre os montes de Israel, que sempre estavam desolados, este povo foi tirado de entre os povos”. E o lugar será “sobre os montes de Israel”. É interessante notar que o povo atacado por Gogue e Magogue, “todos eles habitarão seguramente”.
Temos aqui uma clara declaração, trata-se de um evento escatológico, “no fim dos anos” (Ez 38.8) e “nos últimos dias” (Ez 38.16).
Os vv. 14-16 sumarizam o anteriormente dito acrescentando alguns detalhes importantes:
Portanto, ó filho do homem, profetiza e dize a Gogue: Assim diz o Senhor Deus: Acaso, naquele dia, quando o meu povo de Israel habitar seguro, não o saberás tu? Virás, pois, do teu lugar, dos lados do Norte, tu e muitos povos contigo, montados todos a cavalo, grande multidão e poderoso exército; e subirás contra o meu povo de Israel, como nuvem, para cobrir a terra. Nos últimos dias, hei de trazer-te contra a minha terra, para que as nações me conheçam a mim, quando eu tiver vindicado a minha santidade em ti, ó Gogue, perante elas.
No período da citada batalha, Israel (o povo atacado) estará sentindo-se seguro, e Gogue o saberá. Usará disso para realizar um ataque surpresa e pegar Israel desprevenido. O ataque virá, ao que parece, pela face norte de Israel – "virás, pois, do teu lugar, dos lados do Norte" (v. 15).
Uma questão, portanto, é quando Israel estará seguro?
Esse momento pode ser logo após o anticristo estabelecer um acordo de paz, no início do Princípio das Dores (Dn 9.27). Isso faria muito sentido. Nem antes nem depois desse período Israel, como país, estará em segurança.
Em 1ª Tessalonincenses 5.3, Paulo declara: “quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão”. Essa “paz e segurança” pode ser uma referência ao acordo firmado pelo anticristo em Daniel 9.27. E que, aparentemente, não será respeitado por todos, sendo violado através desse ataque a Israel por Gogue e Magogue. Uma paz, portanto, de curta duração; paz e segurança falsas, um engodo.
Ezequiel descreve os exércitos de Gogue e Magogue como "tu [Gogue] e muito povos contigo [Magogue], montados todos a cavalo, grande multidão e poderoso exército e subirás contra o meu povo de Israel, como nuvem, para cobrir a terra" (vv. 15,16). O número dos soldados será tão grande que não se poderá ver a terra sob eles, eles a cobrirão! Além disso, a descrição simbólica de pessoas a cavalo aqui é interessante, pois encontra paralelo ao descrito em Ap 19.18. O uso de cavalos era comum em batalhas da antiguidade. O verso 16 reafirma que a batalha aqui será contra o povo de Israel.
O verso 17 diz-nos que esta batalha não é apenas uma dentre muitas outras, mas um evento especial, singular na história; tanto que foi previamente prenunciado pelos profetas de Deus – "Assim diz o Senhor Deus: Não és tu aquele de quem eu disse nos dias antigos, por intermédio dos meus servos, os profetas de Israel, os quais, então, profetizaram, durante anos, que te faria vir contra eles?". E o verso 18 completa, "naquele dia, quando vier Gogue contra a terra de Israel, diz o Senhor Deus, a minha indignação será mui grande". Haverá, portanto, um grande juízo da parte de Deus contra Gogue e Magogue.
Haverá juízos de toda sorte contra os exércitos de Gogue e Magogue:
Confusão e conflitos internos – "Chamarei contra Gogue a espada em todos os meus montes, diz o Senhor Deus; a espada de cada um se voltará contra o seu próximo" (v. 21);
Peste, sangue, inundações, chuva de pedras de fogo e enxofre – “Contenderei com ele por meio da peste e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos povos que estiverem com ele” (v. 22).
O capítulo 39 de Ezequiel confirma muitas das coisas anteriormente ditas. Por exemplo:
Atacarão Israel em sua face norte (v. 1);
A batalha terá lugar nos montes de Israel (v. 4);
Gogue e Magogue serão consumidos por fogo (v. 6).
Reunidas todas essas informações podemos concluir a que se refere esta profecia.
Ela delimita o tempo de sua ocorrência a um raro momento em que os povos de Israel “habitarão seguramente”. Não há muitos momentos ao longo da história em que Israel esteja seguro. E, nos últimos dias, menos ainda. Não há outro momento em que tal ocorra, exceto no Milênio e logo após o acordo de paz do anticristo (bem no início de seu governo). Além disso, embora a profecia de Ezequiel 38-39 seja clara ao afirmar que haverá paz em Israel imediatamente antes da invasão de Gogue e Magogue.
Os demais aspectos da profecia não se enquadram no Milênio – a própria guerra entre humanos no período em que Cristo reinar sobre a terra, por exemplo. Só nos resta a primeira opção, o início do governo do anticristo, por ocasião do pacto de paz mundial. Ademais, Paulo afirma haver um sentimento de “paz e segurança” (1ª Ts 5.3) logo no início do Princípio das Dores, que será quebrado pelos juízos divinos sobre a terra. Cremos que a invasão de Gogue e Magogue contra Israel também desfará este sentimento.
Quanto ao Armagedom, não poderia ser a mesma batalha, já que o Armagedom ocorre no fim da Grande Tribulação – um período que, como o próprio nome indica, será cercado de angústia, juízos divinos e maldade dos homens. Paz e segurança não combinam com a Tribulação em nenhum de seus sete anos, exceto por curto período de tempo logo após o pacto de paz em seu início.
Outra questão que “empurra” esta profecia para o início da Tribulação é a questão da limpeza e queima de armas por sete anos (Ez 39.9). Se a batalha ocorresse no final da Tribulação (Armagedom), não haveria tempo para sete anos de queima, pois a volta de Cristo encerraria esse período e iniciaria o Milênio. O período de 7 anos de limpeza deve, portanto, coincidir com os 7 anos da Tribulação.
O mesmo vale para a invasão de Gogue e Magogue do fim do Milênio (Ap 20.7-10), pois – além do diabo ser lançado no lago de fogo (gr. limnēn pyros) e enxofre imediatamente após sua rebelião no final do Milênio – logo após esta invasão, já ocorre o Tribunal do Grande Trono Branco. Não havendo, portanto, tempo para a queima dos instrumentos de guerra de Gogue e Magogue por sete anos.
O mesmo raciocínio é aplicado sobre o enterro dos mortos de Gogue e Magogue por sete meses (Ez 39.12). Este é um período de tempo significativo que requer certa estabilidade em Israel para a realização da tarefa. É mais plausível no início da Tribulação (o tempo da “paz”) do que no restante dela (seqüência do Princípio das Dores e Grande Tribulação), marcado por caos e juízos intensos.
Outra questão que situa Gogue e Magogue de Ez 38-39 no início da Tribulação e a diferencia da batalha do Armagedom e da invasão de Gogue e Magogue de Ap 20.7-10 são seus participantes. A invasão de Ez 38-39 é liderada por nações específicas, enquanto o Armagedom é a reunião de todas as nações contra o Messias em Seu retorno.
O evento descrito em Ap 20.7-10 também se diferencia da profecia de Ez 38-39 pelo mesmo motivo, será um último ato de rebelião do diabo, unido a “nações que há nos quatro cantos da terra” (Ap 20.8), e não apenas a algumas nações específicas (Ez 38.2,5,6).
Outra distinção entre o Armagedom (Ap 16.16) e a profecia de Ezequiel 38-39 é seu resultado. Em Ezequiel temos a intervenção divina destruindo os exércitos de Gogue e Magogue e deixando Israel vivo para a limpeza. O resultado do Armagedom será a destruição das nações diretamente envolvidas e julgamento dos demais, encerrando a era de governo humano na terra. E em Gogue e Magogue de Apocalipse 20.7-10, teremos o julgamento do Grande Trono Branco, algo completamente distinto do que ocorre logo após a profecia de Ezequiel. Os três eventos são claramente distintos.
Faz completo sentido que a profecia de Ezequiel 38-39 situe-se no início da Tribulação, pois a intervenção milagrosa de Deus contra Gogue e seus aliados (Ez 38-39) destrói uma grande ameaça, ao mesmo tempo que pavimenta o caminho para o Anticristo (e seu governo de 7 anos). A derrota de uma coalizão poderosa de outras nações pode levar Israel a confiar no anticristo como o protetor da paz recém-estabelecida, permitindo-lhe confirmar o pacto (Dn 9.27) e dar início formal ao seu governo de 7 anos.
Em suma, todo o esforço do mal, que agora parece lograr êxito neste mundo, será destruído subitamente pela ação direta de Deus no fim dos tempos. Aguardamos tal dia ansiosamente.
Uma última questão, quando o Princípio das Dores termina? Ele termina quando a Grande Tribulação começa; i.e., quando a “abominação desoladora” (Dn 9;27; 12.11; Mt 24.15; Mc 13.14) é colocada no lugar santo. Mas sobre isso falaremos em outro capítulo.
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1 Nova Almeida Atualizada, 2017.




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