top of page

Nossa Esperança: 2. A Igreja, Israel e a Profecia de Zacarias 14.16-21

  • Foto do escritor: Gile
    Gile
  • 4 de out.
  • 18 min de leitura

Atualizado: 10 de dez.

ree

Ao lermos as páginas sagradas obtemos uma visão sobre o Israel de Deus, Israel político/étnico e a Igreja, que diverge acintosamente daquilo que lemos nos livros e ouvimos dos microfones daqueles que afirmam anunciar o Evangelho bíblico. Como, pois, podem divergir aqueles que afirmam anunciar as palavras da Bíblia e a própria Bíblia?!

Portanto, façamos o exercício necessário de buscar na fonte primária, a Bíblia Sagrada, o real conceito de Igreja, Israel de Deus, e Israel étnico/político. Israel étnico e Israel político não são exatamente a mesma coisa; no entanto, do ponto de vista espiritual e profético, são muito próximos. Por isso, iremos agregá-los no mesmo grupo, restando apenas esta nota.


A respeito do tema proposto, buscaremos responder às seguintes perguntas:


  • Quem é a descendência de Abraão e, por conseguinte, a quem as promessas à sua descendência se destinam?

  • O que é o Israel de Deus, do que é constituído e sua dimensão espiritual?

  • Onde a promessa da Igreja surge e onde ela se cumpre?

  • Quais são os povos espirituais do Novo Testamento?

  • Como a simbologia do Antigo Testamento (AT) deve ser entendida no Novo Testamento (NT) e como aplicá-la às profecias bíblicas escatológicas?

  • Por que é importante entender o que é a Igreja, a descendência de Abraão e o e o Israel étnico?

  • Como entender a profecia de Zc 14.16-21?


Com os objetivos traçados podemos iniciar esta jornada. Examinaremos a Escritura de forma simples, clara, direta e sempre levando em conta a mensagem total das Escrituras para que toda a interpretação encontre paralelo na mensagem geral da Palavra de Deus.

Iniciemos entendendo a simbologia do AT e sua aplicação nas dispensações do NT. Os símbolos do AT são sombra do NT, e não o evento espiritual em si (Cl 2.17; Hb 10.1). Isso se aplica aos símbolos do AT e também aos do NT, os quais igualmente não representam o evento em si, apenas apontam para ele.

Por exemplo, A Festa dos Tabernáculos, embora represente literalmente o período em que os hebreus estiveram em cabanas no deserto enquanto peregrinavam do Egito para Canaã, é um símbolo da verdadeira passagem do ser humano – da vida sem Deus para a vida com Deus por meio do sacrifício de Cristo. É, igualmente, uma recordação do que foi necessário para que isso ocorresse, o sacrifício vicário de Cristo, sem o qual jamais poderíamos deixar o Egito espiritual e avançar rumo à Canaã espiritual; i.e., ser parte do corpo de Cristo, Sua Igreja. A ordenança da festa dos tabernáculos está em Lv 23.33-35,39-43:


Disse mais o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos Tabernáculos ao Senhor, por sete dias. Ao primeiro dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis. Sete dias oferecereis ofertas queimadas ao Senhor; ao dia oitavo, tereis santa convocação e oferecereis ofertas queimadas ao Senhor; é reunião solene, nenhuma obra servil fareis.
(...) No primeiro dia, tomareis para vós outros frutos de árvores formosas, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o Senhor, vosso Deus. Celebrareis esta como festa ao Senhor, por sete dias cada ano; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações; no mês sétimo, a celebrareis. Sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais de Israel habitarão em tendas, para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus.

Observe alguns pontos muito interessantes a respeito da festa dos tabernáculos (tendas, sucot ou colheitas):

  • A festa dos tabernáculos é celebrada “aos quinze dias deste mês sétimo, (…), por sete dias” (v. 34 – grifo acrescido);

  • “Ao primeiro dia, haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis” (v. 35 – grifo acrescido);

  • Ao dia oitavo, tereis santa convocação e oferecereis ofertas queimadas ao Senhor; é reunião solene, nenhuma obra servil fareis” (v. 36);

  • "Porém, aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido os produtos da terra, celebrareis a festa do Senhor, por sete dias; ao primeiro dia e também ao oitavo, haverá descanso solene (v. 39);

  • "Sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais de Israel habitarão em tendas [v. 42 – grifo acrescido], para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus [v. 43 – grifo acrescido]".


Portanto, sobre a festa dos tabernáculos sabemos que:


1. Era realizada por sete dias (uma semana). É interessante perceber que a festa dos tabernáculos possui duração de uma semana, a mesma que a festa de casamento dos tempos bíblicos. E também o mesmo período que durará as Bodas do Cordeiro no céu, o encontro entre Cristo e Sua Noiva (a Igreja). Como ocorreria em qualquer festa de casamento dos tempos bíblicos, a festa dos Tabernáculos era realizada com muita comida e alegria. Tais fatos não nos parecem aleatórios, dado o contexto de similaridades entre esses eventos (Festa dos Tabernáculos e Bodas do Cordeiro). E também nos faz recordar de Jo 14.1-3:


Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.

Aqui vemos Cristo na condição de noivo, prometendo à Sua noiva que lhe preparará uma morada, o que era costume no casamento dos tempos bíblicos. Esse período de preparação da casa costumava durar doze meses, o período que durava o noivado.

Os sete dias da festa em cabanas também nos traz à mente 2ª Coríntios 5.1-8:


Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; se, todavia, formos encontrados vestidos e não nus. Pois, na verdade, os que estamos neste tabernáculo gememos angustiados, não por querermos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito. Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé e não pelo que vemos. Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor.

No texto acima Paulo faz uma interessante analogia entre o tabernáculo terreno (nosso corpo físico) e nossa morada celestial (uma habitação junto a Deus) – eterna e não feita por mãos humanas.

A semana da festa dos tabernáculos é uma sombra das Bodas do Cordeiro, a união entre Cristo e sua noiva. É também um símbolo para o resgate operado por Cristo em nossa passagem da velha vida sem Deus à nova, com Deus. Ela também aponta para um novo tempo, em que deixaremos este tabernáculo, velho e desgastado, e passaremos a habitar nas moradas do Pai, preparadas pelo Noivo para a Sua noiva.


2. Havia convocação de todos no primeiro e no oitavo dia. Existiam duas convocações na festa dos tabernáculos, no primeiro e no oitavo dia. Havendo, no entanto, uma diferença entre ambas convocações: na primeira todos vem a Jerusalém para morar nas cabanas, e a festa assim se inicia; no oitavo dia, o povo deixava as cabanas onde passou sete dias, e se reunia novamente.

Durante a semana da festa, eram oferecidas ofertas queimadas. As quais eram o sacrifício de um animal totalmente queimado no altar, representando a completa separação e dedicação do povo a Deus – o que se cumprirá plenamente nas Bodas do Cordeiro (convocação do primeiro dia, que representa o Arrebatamento) e no Milênio (convocação do oitavo dia, após a semana das Bodas do Cordeiro).


3. Associava-se à colheita; i.e., aos frutos que eles haviam produzido. Na festa dos tabernáculos, celebrava-se o término da colheita de verão (Lv 23.39). No tribunal de Cristo, logo após o Arrebatamento (a convocação do primeiro dia da festa dos tabernáculos), nossos frutos serão julgados por Deus, e os celebraremos com alegria (1ª Co 3.12-14):


Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão.

4. É um “descanso solene”. A festa é também um descanso solene após a colheita de verão. Descansaremos em Cristo enquanto celebramos nossa união com Ele nas Bodas do Cordeiro, e desfrutaremos da companhia do Noivo no Milênio. Então, finalmente, descansaremos de toda aflição deste mundo perverso (Ap 21.3-5 – grifo acrescido):


Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.

Deus nos promete que habitará conosco, esta é a fiel promessa que nos fez Emanuel (Deus conosco – Is 7.14; Mt 1.21-23).

Jesus nos ensinou sobre uma grande colheita (um período de colheita também antecedia a festa dos tabernáculos), em Mt 13.24-30, 36-43 (grifo acrescido):


Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro.
(...) Então, despedindo as multidões, foi Jesus para casa. E, chegando-se a ele os seus discípulos, disseram: Explica-nos a parábola do joio do campo. E ele respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos. Pois, assim como o joio é colhido e lançado ao fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

No fim da presente era, os santos serão “colhidos” pelo Arrebatamento, os ímpios sofrerão os juízos da tribulação e serão lançados na fornalha de Deus, o hades, ao fim dos sete anos da Tribulação. Após o Milênio, terá lugar o julgamento do Grande Trono Branco (Ap 20.11-15), em que o joio de todas as eras (os ímpios) serão condenados e lançados na fornalha mais ardente de Deus, o lado de fogo (geena).

A festa dos Tabernáculos ocorria logo após a colheita; nossa união com Cristo (as Bodas do Cordeiro) ocorre logo após o Arrebatamento, uma forma de colheita espiritual de Deus.


5. Nesse período de sete dias (uma semana), o povo deixava sua própria casa e habitava em outra. A semana em que o povo habitava em uma cabana de folhas e ramos era uma representação do que Deus proporcionou ao povo quando deixaram a escravidão do Egito rumo à terra prometida (Canaã). Da mesma forma, hoje, habitamos em uma casa temporária, uma tenda improvisada (2ª Coríntios 5.1-8), até que nossa casa definitiva tenha sido concluída pelo Noivo (Jo 14.1-3).


6. Era específica aos “naturais de Israel”, não possuía caráter universal. A festa ritual original dos Tabernáculos era um evento exclusivo aos judeus, enquanto a lei judaica existiu. Deixando de vigorar a lei, tal festa ritual deixa de ter validade espiritual. Ela, portanto, foi um evento temporário e exclusivo ao povo judeu. Hoje, não possui mais valor espiritual, ainda que o pseudojudaismo moderno (em nada semelhante ao bíblico do AT) a realize parcialmente (não há mais templo nem sacerdote para a realização dos sacrifícios no altar do templo; logo, a "festa dos tabernáculos" atual não é a mesma que a do tempo veterotestamentário).

O evento descrito em Zc 14.16-21 é universal e terá lugar no Milênio, onde a lei mosaica já não é válida. Logo, trata-se de uma descrição simbólica de uma celebração àquilo que a festa dos tabernáculos aponta: nossa habitação com Deus eternamente. Não haverá sacrifícios literais nem habitação em tendas de fato. Já não haverá (como hoje já não há) templo, sacerdote ou lei ritual.

Esta é a verdadeira festa dos tabernáculos. E é a esta que Zacarias se refere em sua profecia relativa ao Milênio (Zc 14.16-21). Ademais, não faria nenhum sentido uma festa judaica literal dos Tabernáculos no Milênio pois: (1) não há mais templo nem tabernáculo para se realizar sacrifícios; (2) não há mais um Israel judaico espiritual; (3) não há mais sacerdotes nem lei para que se possa realizar a festa.

Portanto, ela é impossível de ser feita literalmente como no AT e sem qualquer sentido em nossos dias, quanto mais sem sentido seria realizá-la no Milênio!

A festa original é celebrada pelos judeus (Lv 23.33-35,39-43), pois celebra um evento originalmente ocorrido com o povo judeu (a libertação do Egito rumo a Canaã); em Zc 14.16-21, é feita por todos os povos da Terra. Vê-se, portanto, aqui seu caráter universal. Não é o mesmo evento ordenado em Lv 23.33-43, pois aqui já não há lei judaica vigente, nem templo, nem sacerdote, nem são apenas os judeus a celebrá-la, e – acima de tudo – não se refere ao evento original (libertação do Egito para Canaã), mas à libertação da escravidão do pecado (o Egito espiritual) para a salvação em Cristo (nossa Canaã celestial).

Isso tudo para demonstrar como símbolos não correspondem ao fato a que apontam em si, mas são apenas “sombra”. A profecia de Zc 14.16-21, se interpretada literalmente, distorce todo o arcabouço profético, dispensacional e o ensino completo tanto do Novo quanto do Antigo Testamento sobre a vigência da Lei, Graça, salvação, Igreja, Israel de Deus, etc.

Teríamos de esquecer o restante da Bíblia para podermos entendê-la de forma literal, já que a completude da Escritura nos obriga a entendê-la como o é, uma descrição simbólica.

Por que ao falarmos da Igreja, iniciamos por essa festa e pela profecia de Zacarias sobre ela? Porque, sem entendermos esses princípios, é impossível compreender o que é a Igreja.

A primeira referência à Igreja encontra-se em Gn 3.15:


Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

“O descendente” da mulher é Cristo. No entanto, ao ferir a cabeça da serpente por meio de Seu sacrifício vicário, Cristo nos permitiu ser Sua Noiva, Sua Igreja. A Igreja nasce do sacrifício de Cristo. Logo, toda profecia a este sacrifício é também relativa ao surgimento da Igreja.

Ela, portanto, antecede (Gn 3.15) e sucede (Gl 3.28,29) o Israel étnico. E por longa data. Enquanto o plano da salvação é uma prosa de múltiplos capítulos, centrada em Cristo e Sua Igreja; Israel é, quando muito, um capítulo desse livro.

A Igreja é:

  • Corpo de Cristo (Ef 1.22,23; 1ª Co 12.27);

  • Verdadeiro templo do Espírito Santo (1ª Co 6.19; Ef 2.19-22);

  • Tabernáculo de Deus (Ap 13.6);

  • Única verdadeira Noiva de Cristo (Ef 5.22-25; Ap 19.6-8);

  • Família de Deus (Ef 2.19);

  • Filhos de Deus (Rm 8.15; 1ª Jo 3.1,2; Gl 3.25-28);

  • Geração eleita (1ª Pe 2.9);

  • Verdadeiro sacerdócio (1ª Pe 2.9);

  • Nação separada para Deus (1ª Pe 2.9);

  • Povo adquirido [pelo sacrifício de Cristo] (1ª Pe 2.9);

  • Povo de Deus (Tt 2.14; 1ª Pe 2.9).


Contudo, como ser parte da Igreja? Por meio de arrependimento genuíno de seus pecados e fé exclusivamente em Cristo Jesus, que morreu para perdoar nossos pecados (Jo 3.1-21; Rm 3.10-13; 1ª Jo 5.1-5).

Assim, todos os salvos, em todas as eras, desde os dias de Adão até o último dos que vierem a crer, constituem a totalidade da Igreja. Eles estão congregados ou dispersos. O cristão em sua individualidade ainda é a Igreja. Ela não possui nenhum líder humano – embora haja pessoas com dons, capazes de ajudá-la – ela é um único rebanho sob o único Pastor, que é Cristo (Jo 10.16).

Edifícios ou instituições religiosas não constituem a Igreja, somente os santos em Cristo é que são o único verdadeiro templo do Espírito Santo (At 17.24,25; 1ª Co 6.19; Ef 2.19-22) e a comunidade da Igreja (Ef 1.22,23; 1ª Co 12.27).

Crer em Cristo e ser parte da verdadeira Igreja de Cristo, a Noiva do Cordeiro, é a única maneira de ser salvo e de deixar de ser ímpio. Há, portanto, apenas dois grupos espirituais: (1) A Igreja (os salvos em Cristo, independente de sua condição financeira, educacional, etnicidade, sexo – Gl 3.25-28; Ef 2.13-16), (2) os perdidos (aqueles que se recusaram a crer em Cristo e sua obra redentora na cruz, sendo, por isso, inimigos de Deus [Tg 4.4; Rm 8.6-8]) – Jo 3.16-21.

Entendendo isso, devemos ainda examinar um importante texto sobre o assunto (Gl 3.23-29 – grifo acrescido):


Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se. De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.

Aqui temos um dos mais contundentes trechos sobre esse assunto. E não resta dúvida, após lê-lo como escrito está, que:

  • No AT, estávamos sob a tutela da lei. E, os que naquele tempo obtiveram a salvação, o fizeram pela fé e não pelas obras mortas da lei (vv. 23,24; Rm 4.1-22; Gl 3.6-9);

  • “Vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio” (v.25). A lei vigorou até João Batista (Lc 16.16), ainda que não tenha sido por meio dela que o povo de Deus tenham obtido a salvação mesmo no AT (vv 26; Rm 3.19,20; Gl 2.15,16), e sim por meio da fé (Gn 15.6; Hc 2.4; Is 53.5; Rm 4.3; Hb 11.4,8,39,40);

  • Vindo Cristo e a realização de Sua obra de salvação, já não há judeu, grego, homem, mulher, livre, escravo. O único povo separado do mundo caído é a Igreja. E somente os que fazem parte dela é que podem obter a salvação. Estes se juntam aos salvos do AT pela fé e, juntos, formam a Noiva de Cristo. Vamos nos assentar, nas Bodas do Cordeiro, ao lado de Abraão, Jeremias, Isaías, Daniel, Paulo, Pedro, João e todos os salvos de todas as épocas para celebrar a única verdadeira salvação, que é Cristo Jesus, nosso Senhor (v. 28; Gl 3.9);

  • E, finalmente, todas as promessas feitas a Abraão pertencem aos seus descendentes na fé, isto é, à Igreja de Cristo. A Igreja de Cristo, e somente ela, é o único verdadeiro Israel de Deus (v. 29; Gl 3.6-9).


Algo que corrobora tal entendimento é o capítulo 12 de Apocalipse, um parêntese na descrição das últimas coisas para contar, de modo sintético, a história da redenção. Analisemos alguns de seus pontos principais:


Dragão de 7 cabeças e 10 chifres. Representa tanto o diabo (o dragão e a antiga serpente, que arrastou a terça parte das estrelas – anjos – em sua rebelião contra Deus) como todos os impérios da Terra (os quais estão sob influência dele) e também o último de todos os impérios humanos, o império dos 10 reis e do anticristo (Dn 8.24,25; 11.29-45). É, portanto, um símbolo de triplo cumprimento. A besta de Apocalipse 13 é muito similar ao dragão do capítulo 12.

Embora sejam claramente entidades distintas, guardam semelhanças, já que a besta de Apocalipse 13 trabalha para e sob influência do dragão de Apocalipse 12. O dragão representa o diabo.


Uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas. Esta mulher não representa exclusivamente a nação de Israel. Ela, tampouco, representa apenas a Igreja do primeiro século. Entretanto, representa ambos, e além: ela representa a Igreja desde os dias de Adão até o último dos salvos. Isso explica porque ela tem sinais que remetem tanto a Israel quanto à Igreja e Abraão e seus descendentes pré-Israel/Lei Mosaica.

No Antigo Testamento, a Igreja estava sob um véu. Via-se, vez ou outra, nuances dela. Entretanto, após sua completa revelação no Novo Testamento, passa a ser plenamente compreendida. Isso significa que todos os salvos em todas as eras, mesmo no AT, já eram parte da Igreja apenas pela fé, mesmo sem entender plenamente o que a noiva de Cristo é e qual o plano de Deus em relação a ela.

A Igreja não começa no Novo Testamento, ela começa nos dias de Adão. No entanto, não me mal interprete: uma coisa é a Igreja como ente espiritual, outra coisa é a dispensação da graça, em que ela foi plenamente revelada e compreendida.

Portanto, o plano que trouxe à luz a Igreja anteceder a própria Igreja não é estranho, ilógico ou, de algum modo, apaga a existência das dispensações – as quais devem ser conhecidas a fim de sermos capazes de compreender plenamente a Escritura.

Ao afirmarmos que a Igreja começa desde o início da humanidade, não estamos dizendo que ela já existia plenamente desde o tempo de Adão, mas que o plano final de Deus para a humanidade, desde os dias de Adão, é a Igreja – e não um Israel nacional-étnico. Efetivamente, a Igreja surge com clareza e, de fato, em Cristo Jesus. No entanto, o plano de sua existência é-nos revelado pela primeira vez no Éden (Gn 3.15).

Perceba como Cristo aplica a graça (e não mais a Lei mosaica) no episódio da mulher adúltera (Jo 8.1-11). A Lei ordenava o apedrejamento da mulher; Cristo, contudo, vendo-lhe o coração arrependido, oferece perdão (Graça). Os judeus ficaram sem entender. E este é um dos episódios mais marcantes da graça nos Evangelhos e demonstra como a Lei já estava sendo substituída pela Graça, uma Nova Aliança entre Deus e os homens através de Jesus.

É também interessante perceber como Jeremias 30.5-7 apresenta o Princípio das Dores:


Assim diz o Senhor: Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz. Perguntai, pois, e vede se, acaso, um homem tem dores de parto. Por que vejo, pois, a cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à luz? E por que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela.

Chama-me atenção o verso 7: “Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela”. Haverá angústia. Os cidadãos de Israel, não necessariamente judeus étnicos, sofrerão as dores de parto dos juízos divinos e da maldade do governo do anticristo (assim como os demais habitantes do planeta); no entanto, converter-se-ão a Cristo ao verem todos os sinais ocorrendo como a Escritura os descreve. Da mesma forma que ocorreu a judeus e não judeus na crucificação de Cristo – não creram em Cristo durante Sua vida, mas frente aos sinais que acompanharam Sua morte, passaram a crer:


Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor! [na batalha do Armagedom, sobre o monte das Oliveiras, o mesmo em que Jesus estava ao narrar o capítulo 24 de Mateus!] (Mt 23.37-39)

E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito. Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo; tremeu a terra, fenderam-se as rochas; abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto e tudo o que se passava, ficaram possuídos de grande temor e disseram: Verdadeiramente este era Filho de Deus. (Mt 27.50-54)

Assim, da mesma forma que o Princípio das Dores “é tempo de angústia para Jacó; ele, porém, será livre dela”, alguns descrentes de várias nações sofrerão os juízos de Deus do Princípio das Dores, mas – ao perceber a precisão e verdade da Escritura ao profetizar sobre eles – crerão e serão salvos em meio ao sofrimento daqueles dias, sem deles serem tirados. Jacó representa não apenas o país de Israel e seus cidadãos, mas os que vierem a se converter (de várias nacionalidades e etnicidades) em nível global. O Israel nacional que rejeitou Jesus quando veio pela primeira vez para nos salvar representa a humanidade que não crê, apesar de toda a pregação do Evangelho e seu sinal máximo, a transformação de vida com frutos de arrependimento na vida do salvo (Mt 3.2,8). Ambos, contudo, crerão quando virem os sinais e seu perfeito pré-anúncio na Escritura. Será um tempo de sofrimento para a maioria; mas, para alguns, de conversão e salvação.

A Igreja existe em Cristo. No entanto, ela alcança a todos os que, desde o AT, morreram na esperança de alcançarem uma salvação prometida por Deus. Logo, a idéia da Igreja está presente no AT, ainda que de modo não plenamente revelado. E a Igreja, como propósito, começa nos dias de Adão, por meio da fé que aqueles possuíram em obter uma futura salvação prometida por Deus, crendo na promessa de Deus feita no Éden (Gn 3.15).

Os povos espirituais do NT, portanto, são (1) a Igreja e (2) o mundo. Não há um terceiro grupo. O Israel étnico é cultural, mas não espiritual.

E por que convém investirmos tempo entendendo isso?

Porque um mal-entendido sobre o que é a Igreja pode, não apenas torná-lo incapaz de compreender corretamente a escatologia, mas também impedi-lo de compreender e viver a salvação. E isso, certamente, é muito sério e deve ser tratado com a máxima importância.

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page