Nossa Esperança: 5. Babilônia, A Grande Meretriz
- Gile
- 19 de nov.
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Atualizado: 7 de dez.

Tratamos anteriormente do Princípio das Dores e seus principais aspectos. No entanto, não falamos sobre um ente muito importante – “Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra” (Ap 17.5).
O termo “Babilônia” evoca sobretudo duas idéias: (1) algo que une vários tipos diferentes no mesmo lugar e (2) algo, alguém ou um sistema grandioso, enorme em proporções. É freqüênte ouvirmos ainda hoje alguém dizer “aquilo é uma Babilônia” para referir-se a algo grande e/ou tumultuado, cheio de pessoas de todos os tipos.
A cidade de Babilônia foi o centro do mundo antigo e capital de três impérios – Neobabilônico (leão da visão de Daniel 7), Medo-persa (urso) e Greco-macedônico (leopardo). Múltiplas culturas encontravam-se lá. Muitos idiomas, formas de pensar e, principalmente, religiões diferentes eram praticadas naquele lugar. Tudo o que Deus reprova era feito em Babilônia (Is 47.1-15). Grandes cidades tendem a cometer o mesmo erro de Babilônia (Is 47.8-10):
Ouve isto, pois, tu que és dada a prazeres, que habitas segura, que dizes contigo mesma: Eu só, e além de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos. Mas ambas estas coisas virão sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez; virão em cheio sobre ti, apesar da multidão das tuas feitiçarias e da abundância dos teus muitos encantamentos. Porque confiaste na tua maldade e disseste: Não há quem me veja. A tua sabedoria e a tua ciência, isso te fez desviar, e disseste contigo mesma: Eu só, e além de mim não há outra.
E, como ela, terminarão em ruína por desafiarem a Deus (Is 47.11):
Pelo que sobre ti virá o mal que por encantamentos não saberás conjurar; tal calamidade cairá sobre ti, da qual por expiação não te poderás livrar; porque sobre ti, de repente, virá tamanha desolação, como não imaginavas.
Talvez, alguém se pergunte, “e o que restou de Babilônia?”
Na verdade, apenas um pequeno fragmento de suas poderosas muralhas no que hoje é o Iraque.
E Apocalipse apresenta-nos três tipos de Babilônia: (1) religiosa; (2) política e (3) econômica.
A política resume-se ao império do anticristo, que unirá diversos grupos de poder e terá um controle de alcance global. Tratamos dela no capítulo “Império do anticristo”.
A econômica fica mais evidente com o surgimento do falso profeta, imagem da besta e sua marca (Ap 13.11-17). A este respeito falaremos quando analisarmos A Grande Tribulação.
E nesta seção falaremos sobre a Babilônia religiosa, A Grande Meretriz.
Portanto, devemos atentar ao fato de que nem sempre a palavra “Babilônia” refere-se ao mesmo ente. Em Apocalipse 16.19, por exemplo, refere-se a uma cidade específica.
Sobre a Babilônia (A Grande Meretriz), devemos entender:
De quem, ou do quê, trata-se;
Quando surge e quando finda;
Sua importância no contexto dos eventos escatológicos.
BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA
O capítulo 17 de Apocalipse descreve A Grande Meretriz, Babilônia. Sua queda é descrita no capítulo 18. Se caiu, é porque estava em voga. Vejamos o que diz o capítulo 17 de Apocalipse:
Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes e das Abominações da Terra. Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto. O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher: a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá. Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco. E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição. Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele. Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas. Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo. Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e deem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus. A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra.
Sumarizamos os principais pontos de Apocalipse 17 a seguir:
1. Um anjo que tem uma das sete taças é quem descreve a “grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas” (v. 1). Já aqui temos alguns aspectos interessantes. Quem descreve a Babilônia religiosa é um anjo que tem um dos juízos de Deus (uma das sete taças) para derramar sobre a terra.
Outro ponto interessante é a descrição que ele faz da grande meretriz, “que se acha sentada sobre muitas águas”. Da mesma forma que a besta que surge do mar em Apocalipse 13, a Babilônia religiosa atua e tem poder a nível global (Ap 17.15). Isso não significa que a totalidade do planeta a segue, mas que a maioria o faz. Ela domina no cenário religioso tal qual a besta que emerge do mar em Apocalipse 13 o faz no campo político (e até religioso; com a ajuda do falso profeta, a besta que emerge da terra).
2. Com ela “se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra” (v. 2). A prostituição neste caso não é literal, mas espiritual. Os falsos deuses de Babilônia tomaram o lugar do único verdadeiro Deus, uma forma de infidelidade. O “vinho” pode referir-se a falsa sensação de “alegria” (em verdade, mera euforia passageira) proporcionados pelas falsas promessas de salvação da Babilônia.
Além disso, as festas imorais da antiguidade envolviam meretrizes, idolatria, feitiçaria e o uso de vinho (Nm 25.1-3; Dn 5.1-4; Mc 6.21,22; 1ª Pe 4.3). A Babilônia religiosa daqueles dias fará parecer aceitável toda imoralidade e – como nos dias da antiguidade, na cidade de Babilônia na Caldéia – unirá a devassidão e o culto pagão, as duas formas de prostituição: espiritual e literal (Ap 17.4,5; 18.3).
3. João é transportado ao deserto, onde vê Babilônia na forma de uma “mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres” (v. 3). A figura da mulher para representar Babilônia dá continuidade a idéia da prostituição que ela promove. Ela leva a humanidade a ser infiel a Deus pelo culto a falsos deuses. Tudo isso com o apoio da besta, sobre a qual ela está sentada.
Perceba como a besta é descrita “com sete cabeças e dez chifres” (v. 3), a mesma besta de Apocalipse 13.1,2 – que tem sete cabeças, dez chifres e nas cabeças nomes de blasfêmia:
Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade.
Veja como esta besta de Apocalipse 13.1,2 tem características de três animais: leopardo (terceiro animal em Daniel 7.6), urso (segundo animal em Daniel 7.5) e leão (primeiro animal em Daniel 7.4). E é, ela mesma, o quarto animal em Daniel 7.8, o qual tem dez chifres.
Trata-se do mesmo império, o último humano sobre a terra, que começa com dez reis e termina com o governo despótico do anticristo por cerca de sete anos.
É interessante perceber que leão, urso e leopardo estão representados no império do anticristo, que sustenta a Babilônia religiosa. A cidade de Babilônia foi capital dos impérios neobabilônico (leão), medo-persa (urso) e greco-macedônico (leopardo).
4. A mulher, que representa Babilônia, está “vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição” (v. 4). A veste púrpura e escarlate é própria de reis, nobres e poderosos do mundo antigo. A besta, Babilônia política (império do anticristo), também usa escarlate (v. 3).
A mulher (Babilônia religiosa) usa pedras preciosas, ouro e pérolas; e representa o poder religioso, a religião aprovada e promovida pelo governo do anticristo. Ela tem “um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícies da sua prostituição”. Isso me faz lembrar de Belsazar na Babilônia (Dn 5.1-6):
O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes e bebeu vinho na presença dos mil. Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho, mandou trazer os utensílios de ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo, que estava em Jerusalém, para que neles bebessem o rei e os seus grandes, as suas mulheres e concubinas. Então, trouxeram os utensílios de ouro, que foram tirados do templo da Casa de Deus que estava em Jerusalém, e beberam neles o rei, os seus grandes e as suas mulheres e concubinas. Beberam o vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra. No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o rei via os dedos que estavam escrevendo. Então, se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro.
Por isso a falsa religião global será chamada de Babilônia, pois foi no antigo império Neobabilônico, cuja capital era Babilônia, que o escárnio institucionalizado mais se fez presente. Lá, como em nenhum outro lugar, o culto a falsos deuses de toda sorte e o desprezo e a zombaria ao único verdadeiro Deus foram promovidos. Além disso, esse falso culto freqüentemente estava associado à prostituição literal e promiscuidade diversa; exatamente como a descrição de Apocalipse 17 da futura Babilônia religiosa do Princípio das Dores.
5. Babilônia tem um nome, embriaga-se com o sangue dos santos e das testemunhas de Jesus (vv. 5,6). Babilônia é chamada de “A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA” (v. 5). Ela persegue a verdadeira Igreja de Cristo – que não é um edifício, um líder ou comunidade religiosa ou uma instituição; mas os santos. Ela está “embriagada com o sangue dos santos”. Ela escarnece de Cristo e Sua Igreja. Babilônia será constituída também pelo falso cristianismo, do qual algo já vemos hoje por meio daqueles que deturpam os ensinos das Escrituras.
Já vimos o paganismo travestir-se de cristianismo antes, ele o tem feito ao longo da história, e seguirá a fazê-lo com ainda mais força nos últimos dias.
6. O anjo revela a João quem é a besta em que Babilônia se assenta. Nos versos 8-13 o anjo explica a João quem é a besta, a descrição que ele faz é do império do anticristo. Já tratamos sobre isso no capítulo “Império do anticristo”, mas resumiremos aqui: (1) as sete cabeças são sete impérios (Egito, Assíria, Neobabilônico, Medo-persa, Greco-macedônico, Romano, do anticristo); (2) “caíram cinco” (v. 10), porque já haviam entrado em declínio quando a visão foi dada a João em 95 d.C. (Egito, Assíria, Neobabilônia, Medo-pérsia, Greco-macedônia); (3) “um existe” (v. 10), refere-se ao império romano, que dominava em 95 d.C., quando Apocalipse foi escrito; (4) “o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco” (v. 10) – refere-se ao império do anticristo que dura cerca de sete anos, pouco tempo para um império; (5) “a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição”; a besta (tanto o imperador, o anticristo, quanto o império que ele lidera e que leva suas características) é a sétima cabeça e a própria besta de sete cabeças. Assim o é pois a besta possui características dos seis impérios que a antecederam (seis das sete cabeças); tendo, no entanto, suas próprias características (a sétima cabeça) e sendo, ao mesmo tempo, uma junção de todas elas (a besta de sete cabeças).
O verso 12 trata dos dez reis que antecedem o anticristo e cedem seu poder a ele. Sabemos que três dos dez reis caem por ação do anticristo. Portanto, reinarão “durante uma hora” (v. 12) sete reis com o anticristo. Após esse curto período de tempo (descrito aqui como “uma hora”), os sete reis oferecem ao anticristo (a besta) o poder e a autoridade que possuem. Isto o fazem pois “têm estes um só pensamento” com o anticristo e entre si; i.e., trabalham para o mesmo fim, um mundo sob o controle de satanás.
O verso 14 relata que os agentes do diabo, os reis e o anticristo lutam contra Jesus (“o Cordeiro”); mas que, no fim, serão derrotamos por Cristo!
7. As águas em que a mulher assenta-se (v. 15). O texto é claro, “falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas”. A mulher (Babilônia) é a religião do mundo.
8. A mulher é a cidade que domina sobre os reis da terra (v. 18). O verso 18 diz “a mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra”. Esta cidade possivelmente será Jerusalém, a capital religiosa do mundo no governo do anticristo; o centro da Babilônia religiosa. Fará função semelhante à que a cidade do Vaticano exerce no catolicismo. Desta forma, confunde-se com a própria Babilônia religiosa. A mulher é, portanto, tanto a Babilônia religiosa global quanto sua capital, (provavelmente) Jerusalém.
O QUE É A BABILÔNIA RELIGIOSA
Sabemos, portanto, que esta mulher é a Babilônia religiosa, que será catapultada ao poder pelo império do anticristo, “com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra” (Ap 17.2). Possivelmente, tornar-se-á a religião oficial do império. É uma religião que une muitas outras. Uma colcha de retalhos. Permite todas, exceto a única verdadeira, a adoração ao único verdadeiro Deus.
O verso 16 conta-nos o fim de Babilônia, será destruída pelos mesmos que a alçaram ao poder. A descrição resumida de sua queda é impressionante:
Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo. Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e deem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus.
Deus usará o próprio império que a promoveu para julgá-la! E seu fim será terrível. Esta destruição é possivelmente a mesma descrita em Zacarias 14.1,2 – que ocorre quase que imediatamente antes da batalha do Armagedom.
Partindo dessa premissa – Zacarias 14.1,2 corresponderia a Apocalipse 17.16-18 e a todo o capítulo 18; enquanto Zacarias 14.3-7,12-15 seria correlato a Apocalipse 19.11-21.
Apocalipse 17.18 associa a mulher sobre a besta também a uma “grande cidade que domina sobre os reis da terra”. Babilônia é tanto sua capital, Jerusalém, como a própria religião global. Sua doutrina e estilo de vida devem ser evitados por aqueles que querem ser fiéis ao Senhor, pois será julgada por Deus como Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e circunvizinhanças o foram (Gn 19.24,25; Dt 29.23; Ap 18.8,9,17,18).
A QUEDA DE BABILÔNIA E O LAMENTO DE SEUS ADORADORES, UM JUÍZO A TODAS AS FALSAS RELIGIÕES
Babilônia encarna todas as falsas religiões do mundo. Sua ascensão representa a vitória temporária de todas elas. E, se assim o é em sua subida ao poder, também o será em sua queda estrepitosa. Seu julgamento por Deus é também o julgamento de todas as falsas religiões do mundo – “pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria” (Ap 18.3 – grifo acrescido).
Sua queda definitiva encerra todas as falsas religiões surgidas ao longo da história em ruína eterna, legando-as ao esquecimento, de onde jamais deveriam ter saído.
Tais eventos estão sumarizados no capítulo 18 de Apocalipse. O livro reserva dois capítulos inteiros (17 e 18) para tratar de Babilônia, isso traduz a importância que terá nos últimos dias. Por isso devemos conhecê-la tão bem, identificá-la e rechaçá-la.
Vejamos o que diz o capítulo 18, que narra o juízo de Deus sobre a grande meretriz:
Depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua glória. Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria.
Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou. Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela. O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou.
Ora, chorarão e se lamentarão sobre ela os reis da terra, que com ela se prostituíram e viveram em luxúria, quando virem a fumaceira do seu incêndio, e, conservando-se de longe, pelo medo do seu tormento, dizem: Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo. E, sobre ela, choram e pranteiam os mercadores da terra, porque já ninguém compra a sua mercadoria, mercadoria de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho finíssimo, de púrpura, de seda, de escarlata; e toda espécie de madeira odorífera, todo gênero de objeto de marfim, toda qualidade de móvel de madeira preciosíssima, de bronze, de ferro e de mármore; e canela de cheiro, especiarias, incenso, unguento, bálsamo, vinho, azeite, flor de farinha, trigo, gado e ovelhas; e de cavalos, de carros, de escravos e até almas humanas. O fruto sazonado, que a tua alma tanto apeteceu, se apartou de ti, e para ti se extinguiu tudo o que é delicado e esplêndido, e nunca jamais serão achados. Os mercadores destas coisas, que, por meio dela, se enriqueceram, conservar-se-ão de longe, pelo medo do seu tormento, chorando e pranteando, dizendo: Ai! Ai da grande cidade, que estava vestida de linho finíssimo, de púrpura, e de escarlata, adornada de ouro, e de pedras preciosas, e de pérolas, porque, em uma só hora, ficou devastada tamanha riqueza! E todo piloto, e todo aquele que navega livremente, e marinheiros, e quantos labutam no mar conservaram-se de longe. Então, vendo a fumaceira do seu incêndio, gritavam: Que cidade se compara à grande cidade? Lançaram pó sobre a cabeça e, chorando e pranteando, gritavam: Ai! Ai da grande cidade, na qual se enriqueceram todos os que possuíam navios no mar, à custa da sua opulência, porque, em uma só hora, foi devastada! Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa.
Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. E voz de harpistas, de músicos, de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá, nem artífice algum de qualquer arte jamais em ti se achará, e nunca jamais em ti se ouvirá o ruído de pedra de moinho. Também jamais em ti brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria. E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra.
Vamos resumir o capítulo 18 a seguir:
1. A queda de Babilônia será estrepitosa e definitiva. O verso 2 é o anúncio de um anjo sobre a queda de Babilônia: “Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável”.
O motivo de sua queda é apresentado no verso 3: “pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria”.
2. O povo de Deus deve estar fora de Babilônia; pois, os que com ela se contaminam, sofrerão igual juízo da parte de Deus. O verso 4 encerra um sério aviso ao povo de Deus: "Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos".
Babilônia é a religião contrária à verdade; deixá-la significa não coparticipar de suas idolatrias, feitiçarias, encantamentos e toda sorte de imundícies espirituais e literais. Isso pode ocorrer de diversas formas, pois Babilônia infiltra-se em livros, ciência acadêmica, ideologias, filosofias, música e arte, religião, etc.
Paulo avisa-nos a este respeito (2ª Co 6.14-18 – grifo acrescido):
Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse:
Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.
Ele apresenta a saída de Babilônia, abandonar a vida governada pelo pecado. Agora, regenerados por Cristo, devemos permanecer fora dos muros de Babilônia. Lá já não é nosso lugar. Não deve haver lugar para essas coisas em nossas vidas. Isso é condizente com o que o próprio Paulo nos ensina em Efésios 5.11: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as”.
Jeremias anuncia uma profecia de duplo cumprimentos (Jr 51.44,45):
Castigarei a Bel na Babilônia e farei que lance de sua boca o que havia tragado, e nunca mais concorrerão a ele as nações; também o muro de Babilônia caiu. Saí do meio dela, ó povo meu, e salve cada um a sua vida do brasume da ira do Senhor.
No contexto histórico em que se insere, refere-se à cidade literal de Babilônia, às margens do rio Eufrates. Mas a similaridade com o juízo anunciado pelo anjo em Apocalipse 18.4 deve ser destacado. Aplica-se a ambas, à Babilônia literal – que já caiu e hoje é ruína, onde só vivem serpentes e animais do deserto – e à futura Babilônia religiosa e espiritual.
Isso está de acordo com Apocalipse 18.5-8:
Porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou. Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela. O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou.
Veja a similaridade entre Apocalipse 18.7 e Isaías 47.8,10:
O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver! (Ap 18.7)
Ouve isto, pois, tu que és dada a prazeres, que habitas segura, que dizes contigo mesma: Eu só, e além de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos. (…) Porque confiaste na tua maldade e disseste: Não há quem me veja. A tua sabedoria e a tua ciência, isso te fez desviar, e disseste contigo mesma: Eu só, e além de mim não há outra. (Is 47.8,10)
Você consegue perceber a sensação de segurança em Babilônia? Os seus adoradores crêem jamais serem abalados, mas sobre os tais o juízo de Deus não tarda! Veja Isaías 47.11:
Pelo que sobre ti virá o mal que por encantamentos não saberás conjurar; tal calamidade cairá sobre ti, da qual por expiação não te poderás livrar; porque sobre ti, de repente, virá tamanha desolação, como não imaginavas.
E Apocalipse 18.8:
Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou.
Babilônia, como seus falsos deuses e crença, cairão num único dia, sem que haja quem a defenda. Ante o juízo de Deus, nada há que os falsos deuses possam fazer!
3. A queda de Babilônia é lamentada por seus adoradores e mercadores, os quais se gratificaram com suas prostituições e lucraram com seu comércio (vv. 9-19). Babilônia tem seguidores dedicados. Eles amam cada ato de iniqüidade praticado nela. E por isto sua queda é lamentada, porque já não têm um lugar onde toda impureza é permitida e normalizada.
4. O povo de Deus celebra a queda da grande meretriz (v. 20). Enquanto os que com ela se prostituíram lamentam e choram; os santos celebram sua queda, porque Deus contra ela julgou a causa deles.
Babilônia, não apenas promove um culto satânico, como também persegue os que cultuam apenas o único verdadeiro Deus (Ap 17.6; Ap 18.24). É também por este motivo que os santos celebram a queda de Babilônia.
Desde o primeiro engano no Éden (Gn 3.4,5) até a junção de quase todos eles, tudo é julgado na queda de Babilônia. Há, ainda uma mentira religiosa que substituirá a Babilônia religiosa, o culto ao anticristo e à sua imagem. Mas tal ato é tão abominável que é julgado em separado, sua queda dá-se junto à do anticristo na batalha do Armagedom (Ap 19.20).
5. O fim de Babilônia é definitivo. Os versos 21 a 24 são os finais do capítulo 18 e encerram o destino de Babilônia – sua destruição é irreversível, nunca mais se ouvirá dela. É interessante perceber que a religião babilônica dos últimos dias é comparada a uma cidade ímpia, que promove a iniquidade. Lembra-nos muito Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e circunvizinhanças. E seu destino será semelhante. Até os pecados serão semelhantes aos de Sodoma e Gomorra.
O verso 21 apresenta-nos a simbologia de uma pedra de moinho lançada ao mar, ela afunda e não se pode recuperá-la, pois é muito pesada e vai até o fundo. Assim será a queda da falsa religião mundial no final da Tribulação, pouco antes da batalha do Armagedom – “e não será mais achada” (Ap 18.21).
Os versos 22 e 23 descrevem como a euforia do pecado cede ante o juízo divino. A hora do acerto de contas chegou para Babilônia e seus seguidores. Outro de seus pecados é listado no verso 22 – “porque todas as nações foram enganadas pelas tuas feitiçarias”.
O verso 24, o último do capítulo 18, encerra com outro motivo para seu juízo: “E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na terra”. Ela, portanto, persegue os santos e todos que se lhe opõem. Lembra-nos Jezabel, a promotora do assassinato dos servos de Deus (1º Rs 18.4,13; 1º Rs 19.1,2), que também agia como meretriz (2º Rs 9.30).
Há também uma mulher na Igreja em Tiatira que é chamada de Jezabel, em associação aos atos tanto de feitiçaria quanto de prostituição da esposa de Acabe. Obviamente, não é a mesma mulher com que Acabe se casou, mas agia da mesma forma que esta (Ap 2.20-23):
Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras.
E esta Jezabel de Tiatira recusa-se a arrepender-se, do mesmo modo que a esposa de Acabe: “Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição” (Ap 2.21).
Há, de fato, uma relação reiterada entre prostituição literal e espiritual (1º Rs 21.25,26; Ap 2.20; Os 4.10-19). Existe um fundo espiritual por trás da prostituição, por isso os que se tornaram escravos dela têm tanta dificuldade em deixá-la – “porque um espírito de prostituição os enganou” (Os 4.12c).
E a prostituição cultual (Dt 23.17,18; 1º Rs 15.12; 2º Rs 23.7; Os 4.12,13) é também um bom exemplo dessa associação.
Por isso Babilônia é chamada “mãe das meretrizes e das abominações da terra” (Ap 17.5); pois une a prostituição espiritual, o culto a falsos deuses em vez do verdadeiro (abominação), e justifica e normaliza a impureza (mãe das meretrizes). É como a Jezabel que com Acabe se casou e como a mulher de Tiatira. Todas elas terão seu fim quando Deus as julgar nos últimos dias desta era.
Babilônia é o exato oposto da Nova Jerusalém, a cidade santa que representa a pureza, a santidade e o triunfo de Deus (Ap 21.1-4). Babilônia é a meretriz; Nova Jerusalém, a legítima esposa.
Como toda meretriz, reduz os relacionamentos a meras trocas comerciais. Ela vende-se por dinheiro, posição, ouro, pedras preciosas, influência política. A falsa religião que “dança conforme a música”, vende suas crenças, negocia sua “doutrina” e aceita ser moldada pelo mundo que a cerca.
Como muitos dos nossos dias e quase todos nos dias da Tributação: Babilônia não tem valor, tem preço. E isso lhe custará muito caro quando Deus a julgar.




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