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Sobre chuva, casamento e eternidade

  • Gile
  • 15 de out. de 2023
  • 8 min de leitura

Atualizado: 9 de dez. de 2023


Vivemos na dispensação da não intervenção. A era pós-apostólica é singular no que diz respeito à forma como Deus interage com a humanidade. Com isso em mente, orar pedindo um cônjuge faz tanto sentido (e será tão eficaz) quanto rogar por chuva.

Há leis naturais, criadas por Deus, que regem as chuvas. Pressão atmosférica, correntes de ar, topografia do terreno, dinâmica das nuvens, temperatura local: existem variáveis que influenciam a ocorrência de chuvas. Estas ocorrem conforme essas variáveis interagem, seguindo as leis naturais. Leis que se repetem e, por isso, podem ser estudadas. É apenas por isso que você pode ter a previsão do tempo para amanhã.

Com o casamento não é diferente. Você não é Isaque, Rebeca já morreu. E não há mais uma cidade mesopotâmica chamada Harã. É preciso ser claro, você não será milagrosamente guiado até alguém específico. Nem mesmo existe esse alguém para você. Pedir por algo assim, nos mesmos moldes daquele evento, é como solicitar à sua professora que sente ao seu lado na prova e responda a todas as questões [1]. Isso não vai acontecer! Entenda, aceite isso!

Estamos em outra era. Aquele evento ocorreu, como tudo o mais na Bíblia, para ilustrar uma verdade espiritual – Cristo vindo até os homens para separar uma Igreja para Si:

Dizendo: É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos, e pelos principais sacerdotes, e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia. E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo? Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos. (Lucas 9.22-26)

Ele já nos trouxe essa verdade e não se repetirá. Todos os milagres descritos na Bíblia revelam um ensino espiritual. Talvez não o vejamos à primeira vista, mas ele está lá. E, se você reler o evento cuidadosamente, certamente, o encontrará.

Agora, retornemos ao matrimônio. Ele também obedece princípios. Você pode (e deve) aplicá-los caso queira ser bem-sucedido na tarefa de encontrar alguém para coexistir por toda sua vida terrena. Esses princípios estão descritos na Bíblia.

Em primeiro lugar, nos atuais tempos de grande confusão, necessito dizer o óbvio – embora imagine que você já saiba –, que matrimônio é apenas entre homem (XY) e mulher (XX):

E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gênesis 1.27; grifo acrescido)
“Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (Gênesis 2.24; grifo acrescido)
“E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois em uma carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mateus 19.5-6; grifo acrescido)
“Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne.” (Efésios 5.31; grifo acrescido)
Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é; nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é. Com nenhuma destas coisas vos contamineis; porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu expulso de diante de vós. Por isso a terra está contaminada; e eu visito a sua iniquidade, e a terra vomita os seus moradores. Porém vós guardareis os meus estatutos e os meus juízos, e nenhuma destas abominações fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós; porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela estavam antes de vós; e a terra foi contaminada. (Levítico 18.22-27; grifo acrescido)
Pois estes mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador [humanismo], que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a iniquidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, difamadores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também se agradam dos que as fazem. (Romanos 1.25-32; grifo acrescido)

Não nos alongaremos muito nessa parte, embora haja profundos ensinos nos versos acima. Recomendo que não apenas os leia, mas reflita sobre eles e suas implicações.

Em segundo lugar, busque alguém com as características bíblicas de um servo fiel, alguém capaz de servir. Eu sei que essa palavra está fora de moda, alguns podem achar esse conceito antiquado e até “cafona”. Mas esses alguns são aqueles com os quais você não será bem-sucedido no matrimônio, portanto não nos importa o que eles pensam. Ser capaz de servir é algo indispensável ao casamento. E para servir perfeitamente é preciso entender a existência além de si mesmo. É necessário que ele olhe para os outros antes de si mesmo, como Paulo tão bem nos ensinou:

Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. (Filipenses 2.3-5)

— “Ei, espere aí!”, você me interpela, “esse texto versa sobre ser um bom discípulo de Cristo, é sobre ser Igreja!”.

Exatamente, e é isso o que você deve procurar, um genuíno discípulo de Jesus! Esse é o cônjuge perfeito. É ele que estará ao seu lado até que a morte os separe. E, agora, você já pode entender porque é tão difícil encontrar um: os discípulos verdadeiros são uma espécie em extinção!

Essas características são o exato oposto do ser humano dos últimos dias. Por isso, penso que sua tarefa será hoje mais árdua do que a de Eliezer (Gênesis 24). E suas chances de sucesso são muito inferiores a dele. De fato, encontrar alguém que esteja fielmente ao seu lado – até a morte, nos dias atuais – demandará um verdadeiro milagre!:

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, intemperantes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. (2 Timóteo 3.1-5)

Afaste-se deles na vida diária e, muito mais, no matrimônio. Casar-se com alguém assim resultará em ruína. O jugo espiritual desigual aplica-se aos negócios, amizades, relacionamentos em geral e – principalmente – ao casamento. E parece-me bastante lógico e compreensível que a Escritura nos advirta sobre suas consequências nefastas. O que, por outro lado, não faz o menor sentido para mim é ver pessoas que buscam um matrimônio duradouro (até que a morte os separe) tentando fazê-lo ao lado do indivíduo descrito por Paulo nos versos acima.

O plano original de Deus era: Adão. E só!

Eva veio depois. Caim e Abel, mais depois ainda. O Senhor não criou Adão, Eva, Caim e Abel ao mesmo tempo. Não! Ele fez Adão.

Deus habitava um mundo não físico, sendo senhor de tudo desde a eternidade. Os anjos já existiam e a terça parte deles já se havia rebelado contra Deus antes da criação do mundo físico.

Eva, no entanto, foi a ruína de Adão. Ele contribuiu sendo omisso, é verdade. Contudo, não foi ele iludido pela serpente, apenas cedeu aos impulsos de Eva a fim de satisfazê-la:

E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. (1 Timóteo 2.14)

Adão estava bem, era feliz no Éden. A questão é esta: ele não precisava de Eva, Abel, Sete nem ninguém mais; já possuía tudo de que precisava. Ele já era pleno e feliz em sua relação com Deus. Vivia num lugar perfeito, era sem pecado e habitava à luz do Eterno Deus. O que mais ele poderia querer?

A criação de Adão – existindo em harmonia com o mundo criado, feliz em sua relação com Deus no Éden – ensina algo sobre o próprio Deus, pois Adão representa Cristo; Eva, a igreja; e o casamento, a relação entre Deus e o Seu povo:

Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido. (Efésios 5.22-33)

Este artigo não é sobre casamento. E o matrimônio não é um fim em si mesmo, ele apenas ilustra uma verdade espiritual. Aponta para algo maior, em um mundo espiritual.

O que estou dizendo é que Deus criou Eva e a geração de filhos – a família – pelo mesmo motivo que criou a Igreja (a humanidade, se tivesse seguido o propósito original de Deus).

O Senhor necessitava de nós menos do que Adão necessitava de Eva. Mesmo assim Deus fez Eva. E de Eva e Adão, Caim e Abel. E da porção redimida dentre a humanidade, Sua Igreja. Deus não criou a humanidade para Ele ser feliz. Ele já é feliz em si mesmo, na Trindade. Adão recebeu Eva, pelo mesmo motivo, não para ser feliz.

E, se está buscando um matrimônio pensando que isso trará felicidade a si; sinto informá-lo, mas você está fazendo isso errado!

Adão recebeu Eva, porque ele era feliz em Deus. Deus criou a humanidade, porque era feliz em si mesmo. E você deve casar-se, caso deseje fazê-lo, para compartilhar a felicidade e abnegado serviço que recebeu de Cristo. Você deve casar-se apenas se tiver Cristo a oferecer.

Deus era tão pleno em si (tão amoroso, bom, santo e justo) que não poderia guardar isso só para si. Por isso criou os anjos; mas isso não foi o suficiente, parte deles se rebelou contra o Deus perfeito. Então, criou Adão para compartilhar de Si. Para que alguém tivesse o privilégio de viver à luz da perfeição. Casamento é para os que tem algo a ofertar, mas não qualquer algo. Esse algo é Cristo. E o casamento é o evangelismo por excelência, o mais fundamental compartilhamento do Evangelho de que se tem notícia.


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