Nada além
- Gile
- 22 de out. de 2017
- 1 min de leitura
Atualizado: 12 de fev. de 2022
[Escrito sob a perspectiva de Eclesiastes 1.2-3: "Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?"]

Olho pela janela e não vejo nada.
Nada, exceto o vazio.
Vejo o silêncio,
O vácuo proposital.
Miro a inexistência e obscuridade.
Observo a completa ausência de propósito.
Será que algo há mais doloroso
Do que o silêncio?
O despropósito do existir.
O lúgubre vazio do horizonte
E a silenciosa inexistência de razão.
Após vislumbrar o vazio,
Cerro a janela e silencio.
Faço coro com aquilo que miro.
Nada há além,
Se há, não se manifestou.
Guardou respeitoso silêncio.
É certamente nobre,
Pois portador de reverência.
Respeitador silêncio que não se cansa.
Fatigado estou eu
De observar o nada
Além da quadrada janela.
O enquadramento do inexistir.
Nada além da falta de propósito.
Dá vontade de correr,
De fugir através da janela.
De pulá-la em direção ao vazio,
À imagem sem significado.
Em meio ao vazio e ao caos,
Um observador silencioso e desesperado.
Uma cadeira vazia entre escombros
De um mundo medíocre.
A contemplação interminável
De um cinza pálido.
A pouca valia está ao redor,
Decorando o silêncio do despropósito.
É como uma locomotiva
Que desce o desfiladeiro,
Mas o faz em quietude.
Ela não desce com vigor,
Mas simplesmente desmaia.
Não há reação,
É como o trem
Sobre a bitola dos trilhos,
Como a locomotiva submissa,
Jamais ousa sair de seu rumo.
Sequer ousa pensar em tal possibilidade.
E - através da janela do último vagão -
O que se vê?
Nada além.
20 de Outubro de 2016
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