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Na noite fria

  • Gile
  • 10 de set. de 2023
  • 1 min de leitura

Atualizado: 13 de set. de 2023


Na profunda

Escuridão da noite,

Eu ouvi sua voz

Chamando por mim.

Mas segui meu caminho

Em meio à neblina

Indiferente e fria.


Meu coração estava tão frio

Que, como minhas mãos,

Já não podia senti-lo.

Então, apenas segui meu caminho,

Em direção a profunda

Escuridão da noite.


Não havia outros sons ao redor,

Apenas este suave e,

Quase inaudível, chamado.

Por algum motivo,

Que ignoro,

Sabia meu nome.

Esfrego as mãos,

Sopro entre os dedos,

Aqueço-me como posso.


A noite não dá trégua.

A esperança aos que estão cá fora

É o amanhecer.

De algum modo,

É como se a manhã resolvesse tudo.

Mas ela não resolve.


Os medos podem dissipar-se,

É verdade,

Com o poderoso brilho do sol.

Mas as dúvidas não.

As incertezas teimam

Em permanecer.

Surgem ao entardecer

E não nos deixam jamais.


Como um amigo não convidado,

Ficam lá,

No meio da noite fria,

Fazendo-nos companhia.

Uma indesejada presença

Que persiste mesmo

Ante a firme luz do amanhecer.


E quando já quase finda

A noite está,

Mais uma vez,

Esta voz põe-se a me chamar.

Não sei quem me convida,

Nem mesmo para onde me quer levar.

Deste lento vagar

Que vivo

Prefiro não arriscar.

A voz insiste,

Eu resisto.

Mas, ao fim, cedo.


Vejo um homem de branco,

Ferido e sangrando,

Que me chama:

“Tome sua cruz, rapaz.

Já a sua pus sobre meus ombros.

Agora, é a sua vez,

Tome-a e siga-me,

Que – ao fim da jornada –

Eu o levarei a um melhor lugar.”


Deste vazio,

Um amor maior toma o lugar.

Sinto-me aquecido pelo abraço

Deste desconhecido,

Que parece saber quem sou

E que me convida a segui-lo

A seja lá onde for

Que me queira levar.


Assim a noite termina.

Meus medos já não são

Minha sina.

Já não vagueio na noite fria,

Encontrei o amor maior

Que estava a me esperar.


26.02.2023

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